E foi com esta grande aventura que concluí o primeiro semestre de 2012 no que às corridas diz respeito... Inicialmente o grande objectivo deste primeiro semestre era o Ultra Trail de Sesimbra que concluí com sucesso, mas parece que não tinha ficado satisfeito e queria algo mais...
Ganhei coragem (porque vontade não me faltava) e inscrevi-me então no Ultra Trail da Serra da Freita cerca de um mês antes da prova. Prova esta que já vai na sua 7ª edição, dando a conhecer a Serra da Freita e o seu meio envolvente a quem lá se deslocar.
A prova, organizada pela Confraria Trotamontes e pelo Grupo Desportivo Leões do Veneza, contou com duas distâncias à escolha. Os 70km para os mais corajosos e bem preparados e os 17km para quem quisesse algo mais curto, mas ao mesmo tempo desafiante.
Eu, claro está, aventurei-me nos 70km. A Carla ficou-se pelos nada fáceis 17km que incluíam a parte inicial e os últimos 5km da ultra, com direito ao famoso PR7 e tudo!
No dia anterior (sexta-feira) viajamos para o norte... Uma viagem de 330km, sempre cansativa, mas necessária. À noite dirigimos-nos ao parque de campismo para levantarmos os dorsais e assistirmos ao briefing.
No briefing o Moutinho falou principalmente acerca dos primeiros 40km da prova, que embora passando pelos mesmos pontos chave do ano passado, teriam alguns troços de ligação diferentes, com menos alcatrão e mais trilhos... Falou dos trilhos novos que tinham aberto, trilho do carteiro, trilho dos Incas, dos Aztecas e outros que não me lembro do nome... Falou da dureza da prova, subidas longas e bastante difíceis e da necessidade de controlarmos o ritmo nos primeiros 17km até ao rio...
Tivemos uma ideia do que seriam os abastecimentos, bem compostos e quem quisesse mais que levasse consigo...
Para quem ainda não soubesse foram falados os tempos limite de passagem em 3 pontos da prova: Covelo do Paivó (20km - 5h), Póvoa das Leiras (40km - 10h) e Lomba (59km - 15h).
Foi-nos dada a informação de quais seriam as marcações utilizadas e outros aspectos da prova...
Para mim o briefing serviu para me consciencializar, novamente, de quão dura seria a prova e da gestão do esforço que teria que ser feita para levar aquilo por diante...
Os objectivos que tinha traçado antes do briefing eram:
Mas lá fui para casa, dormir sobre o assunto e recarregar energias para o dia seguinte. Deitei-me já perto da 1h da manhã, custou-me a adormecer e levantei-me às 5h30! Passa pela cabeça de alguém ir fazer um trail de 70km com 4h de sono?! Só mesmo para malucos...
E não éramos poucos! Chegamos ao parque de campismo por volta das 7 e picos da manhã... Caía uma chuva miudinha e havia algum nevoeiro no ar... Já tínhamos os dorsais e os chips, decidimos ficar dentro do carro à espera da hora...
7h30 a chuva parou, fui equipar-me a ver se não me esquecia de nada... Passei no controlo do chip e aguardei calmamente pelo início da prova, sem aquecimento nem nada, não era preciso, tinha muito tempo para aquecer...
Uns minutos depois das 8h é dada a partida e lá vão eles para 70km pela serra!
Optei por partir mesmo na cauda do pelotão... No início não queria grandes velocidades e partir no meio da confusão só iria fazer com que acelerasse demasiado no início e desperdiçasse energias preciosas...
Os primeiros km foram feitos em total descontracção, primeiro num caminho largo que nos levava até à Frecha da Mizarela para podermos contemplar o que nos esperava nos últimos km da prova... Só de olhar para aquele vale até mete medo e com o nevoeiro tornava-se num cenário quase que assustador...
Mas o caminho ainda não era para ali... Seguimos em direcção à aldeia de Albergaria da Serra, passamos por uns parques de merendas e atravessamos o rio Caima, mas ainda não foi desta que molhamos os pés...
Estes km iniciais não apresentavam grandes dificuldades, embora passássemos por uns caminhos mais estreitos, sobre pedras escorregadias, onde pude começar a observar as primeiras quedas da malta...
Havia muita gente a parar para guardar os corta-ventos nas mochilas e eu aos poucos fui ultrapassando alguns atletas...
O trilho acompanhava agora as margens do rio Caima, até que se deu o primeiro e único engano do dia... Uns 20 ou 30m fora do percurso, levado pela distracção e pelos atletas que seguiam à minha frente...
Depressa retomei o caminho certo e segui viagem... Olhei para trás a já via um grande grupo de 15 ou 20 atletas atrás de mim, mais alguns que ainda seguiam mais para trás...
Estávamos no planalto da serra, praticamente nos 1000m de altitude, com o dia a nascer, o nevoeiro mais baixo tinha desaparecido, mas o céu estava coberto de nuvens... Já íamos vendo algumas cabras e as típicas vacas arouquesas a despertar para o dia...
O terreno à nossa frente era em ligeira subida, pelo que decidi preparar os bastões e colocá-los em acção... Estava a pensar só os começar a utilizar após a parte do rio, mas ia ali com eles na mão, ao menos iam trabalhando... Lá os "estiquei" e fui progredindo...
Até aos 6 km fomos sempre em ligeira subida... Aqui estava já o Moutinho, num cruzamento, a descarregar garrafões de água que mais tarde iriam servir de abastecimento aos atletas da corrida... Ao passarmos ainda nos foi avisando para termos cuidado na descida porque era muito fácil, demasiado fácil para os km que ainda nos faltavam...
A partir daqui começamos a descer por um estradão largo... Fui sempre controlando o ritmo, devagar devagarinho, como se fosse num passeio... Ainda parei a meio da descida para contemplar o vale onde seguíamos...
Até +/- ao km 9 a descida fez-se bem, sem grandes dificuldades... Aqui apanhámos um trilho muito engraçado, escondido no meio das árvores, que acompanhava uma levada de água até à aldeia de Tebilhão...
Na aldeia vejo uma atleta a voltar para trás a caminhar... Perguntei-lhe se estava tudo bem, respondeu-me que sim... Fiquei a pensar que talvez tivesse perdido o chip e estivesse à procura dele... Mais à frente cruzo-me com mais 3 ou 4 atletas a voltar para trás e pergunto o que se passa, dizem que vão ter com a Patrícia... Mais tarde vim a saber que a atleta caiu, ficou mal tratada dos joelhos e veio a desistir... na altura deveria ser a 4ª ou 5ª mulher...
A seguir a Tebilhão descemos mais um bocado, e apanhámos uma pequena subida até à aldeia de Cabreiros ao km 12, onde se encontrava o 1º controlo... Não havia ninguém junto do controlo, mas pelas informações em cartazes no local, era mesmo para colocarmos os chip... Os chips eram daqueles da orientação... Lá inseri o chip no leitor e segui viagem...
Aqui tinha início a 2ª parte da descida... Um troço com bastante inclinação, em que era necessário muita calma para descer devagar, de forma a não massacrar desde já os músculos das coxas...
Fiz a descida praticamente toda com o Francisco Mira Gaio... Claramente esta não era a posição dele, atleta que está habituado aos lugares da frente e a ritmos bastante mais rápidos... Mas ia com queixas nos gémeos e nos pés e estava a pensar desistir no próximo abastecimento... Lá fomos conversando por ali abaixo até chegarmos ao rio de Frades onde ele ficou com as pernas de molho a ver se as dores aliviavam...
Aqui, aos 14km, no rio de Frades, tivemos uma amostra do que seria o Paivó lá mais à frente... Fizemos uns metros no rio, cruzando-o uma ou duas vezes... Nada de complicado, o leito do rio era baixo, com algumas pedras fora de água e nesta altura ainda tentava ver qual era a melhor forma de o atravessar sem molhar os pés...
Saímos do rio, subimos uns metros e damos de caras com o famoso túnel que o Moutinho nos tinha falado no briefing! O túnel tinha talvez uns 80 ou 100m, e era impossível de se fazer sem recorrer à luz do frontal, pelo menos era o que diziam... Como lá chegamos de surpresa, não ia preparado com o frontal... Como também não tinha muita vontade de o tirar da mochila decidi seguir dois atletas que iam com luz...
Pelo que pesquisei o túnel era usado nas antigas minas de Volfrâmio do rio de frades e o seu piso é excelente, pelo que por aqui não havia problema... O problema surgiu quando os dois atletas que seguiam à minha frente se começaram a distanciar e eu fiquei sem luz, mais ou menos a meio do túnel... Totalmente às escuras, só via um pontinho de luz literalmente ao fundo do túnel... Pois bem, não tinha outra hipótese que não fosse avançar... Usei os bastões e fui "apalpando" terreno à minha frente e dos lados para ver se não batia em nada... Fui-me aproximando do final do túnel e uns metros antes da saída consigo evitar uma cabeçada no tecto e uma pedra que se encontrava mesmo no meio do caminho, ainda agora não sei bem como...
Saio do túnel e respiro de alívio depois de o ter conseguido ultrapassar sem luz e sem nenhum acidente... Olho à minha volta e começo a ver as ruínas das antigas minas de Volfrâmio de Rio de Frades nas margens do rio, que outrora forneceram minério aos alemães para a I e II Guerras Mundiais... São lugares com muita história, mas naquele momento não tinha tempo para isso, mas hei-de lá voltar brevemente...
Atravessamos a aldeia de Rio de Frades fazendo umas centenas de metros em alcatrão e entramos novamente nos trilhos... Passamos uma zona de eucaliptal, com vários obstáculos a dificultar a progressão e entramos novamente no alcatrão...
Umas centenas de metros em alcatrão e sabia que a entrada no rio Paivó estava à porta... Virámos à esquerda para uma descida em terra e já se via o rio lá em baixo...
Entramos no rio aos 17,8km a só haveríamos de lá sair aos 20,5km... Foram quase 3km de espectáculo principalmente de equilibrismo...
Ao início tentei seguir os atletas que iam à minha frente, tentando ir pelas rochas das margens... Mas estávamos num vale, onde o sol ainda mal tinha aparecido e as rochas, mesmo aquelas que estavam fora de água, estavam húmidas e escorregadias... Dei as primeiras escorregadelas, mas consegui manter-me de pé...
Mais à frente estava farto de saltar de rocha em rocha e decidi aventurar-me pela água... Fiz uns metros dentro de água mas esta opção também acarretava os seus riscos... O leito do rio era bastante irregular, com bastantes rochas também elas escorregadias devido ao lodo...
Regressei a "terra"... Quando menos esperava, numa rocha lisa, demasiado lisa, escorrego e estatelo-me na rocha e por pouco não fui directo à água... Caí de lado... Fiquei logo com bastantes dores no cotovelo direito e na anca direita... Balbuciei uns palavrões e levantei-me calmamente, avaliando os estragos... Dava para continuar, que remédio...
Tentei continuar, com cuidados redobrados, mas as escorregadelas dentro e fora de água começaram a ser uma constante... Até se tornou engraçado, não fossem as mazelas começarem a aparecer...
Apanho um pequeno troço numa margem que dava para correr e dou um trotezinho... Faço uns metros e pimba!!! Uma valente canelada numa rocha que estava escondida atrás dumas ervas! Atirei-me logo para o chão cheio de dores e vociferei toda uma panóplia de palavrões, obscenidades e afins...
De realçar que os dois atletas que seguiam perto de mim de imediato perguntaram se estava tudo bem... Claro que não estava tudo bem, mas fiquei agradecido por demonstrarem preocupação... Fiquei uns segundos sentado a avaliar os estragos e fui tentando levantar-me... A ferida não era grande, mas a pancada foi bastante forte e a minha sorte foi ser mesmo abaixo do joelho, porque se fosse no joelho estava tudo acabado para mim... Continuei com dores, ainda a quente, mas sabendo que dali a umas horas aquilo ia inchar e começar a doer ainda mais... Vá lá que não sangrou muito...
Nesta altura era esta a música que tinha na cabeça... hehe Uma que o Vitorino Coragem tinha colocado no facebook uns dias antes da prova para dar força a quem fosse à Freita...
Pronto, depois disto já era difícil piorar... Mas ainda era possível... Ao transpor uma rocha com poucos apoios na margem do rio, escorreguei e fui parar dentro de água, ficando com água pelo peito... Medonhos aqueles segundos em que estamos a entrar na água e os pés nunca mais tocam no fundo! Valeu-me um atleta que me esticou os seus bastões para eu agarrar e me ajudou a subir...
Mais à frente tivemos que atravessar o rio de uma margem para a outra numa zona em que não havia nada que nos ajudasse a atravessar a não ser um tronco que ligava as duas margens... Quando cheguei ao local estavam uns 5 ou 6 atletas a ver como é que iam fazer... Depois de avaliar a situação vi que a melhor opção era ir a nado, mas como as minhas habilidades aquáticas não são grande coisa, tive que ir a nado, mas agarrado ao tronco... Prendi os bastões na mochila, "amandei-me" à água e agarrei-me ao tronco... Fui batendo os pés e progredindo até que... Tau!!! Uma patada numa rocha! Aqui já tinha esgotado todo o meu vocabulário no que a palavrões diz respeito, por isso só me restou chegar à outra margem, levantar-me e continuar...
Estes foram os grandes percalços do rio... Foram cerca de 2,5km em 53min, o que dá uma média de mais de 21min/km! Saí de lá inteiro, mas mais tarde viria a sofrer as consequências dos pequenos acidentes...
À saída do rio Paivó, subimos uma pequena barreira até chegarmos a uma estrada... No alcatrão, a descer, fiquei admirado de como ainda conseguia correr, praticamente sem dores...
Umas centenas de metros em alcatrão e estávamos no primeiro abastecimento em Covelo de Paivó, aos 20km... Aqui ia com 3h30 de prova e ainda só tinha dado umas dentadas numa barra que levava comigo... Aproveitei para alimentar-me bem porque o próximo abastecimento (28km) era só líquidos e depois só tínhamos sólidos aos 40km... Comi de tudo o que havia e no final enchi o reservatório da água para seguir viagem... Despi o corta vento, dado que a temperatura já estava mais agradável, tirei as pedras das sapatilhas e ala que se faz tarde...
Saímos de Covelo de Paivó e seguimos por uma estrada rural, depois num estradão onde tivemos que abrandar o passo para nos cruzarmos com 2 vacas arouquesas sem as assustar...
Aos 22km o terreno começou a inclinar e vi que ia começar a festa... O trilho era bastante bonito, piso com pedras ali colocadas pelo homem à muitos anos e uma vista lindíssima... Mais à frente abandonamos esse trilho de progressão fácil e começamos a subir a subir pelo meio do mato, num trilho recentemente aberto, de difícil progressão e com uma inclinação brutal! Em 700m de distância subimos cerca de 190m de desnível, praticamente 30% de inclinação...
O suor corria-me pela testa e pela cara e pingava-me pelo nariz e pelo queixo... Até aqui tinha sido uma brincadeira... Agora é que começava a festa rija! Os bastões trabalhavam mais que nunca e ajudavam-me a subir sem ter que suportar todo o meu peso com as pernas... Era como se estivesse a subir agarrado a uma corda...
Vencida que estava esta etapa continuamos a subir até Regoufe, mas agora com muito menos inclinação... Aproveitei que tinha rede no telemóvel para mandar mensagem ao mister João Carlos Correia a dar o ponto da situação... Recebi uma mensagem de incentivo e a informação de que a transmissão online da prova não estaria a funcionar...
"Visitamos" Regoufe mesmo só de passagem, mas deu para ver a beleza característica destas aldeias da Serra da Freita e ainda para beber água numa torneira ao pé dumas casas...
À saída de Regoufe começamos novamente a subir, mas desta vez apenas tínhamos a inclinação como adversária, já que o trilho era amplo e sem obstáculos...
Chegado lá acima, uma vista ampla, serras e vales de perder de vista que nos mostram toda a sua imensidão... Para trás ficava Regoufe, seguíamos agora em direcção a Drave...
Aqui "apanhei" boleia de um atleta, Emílio Vilas Boas que me acompanharia durante grande parte do resto da prova... Começamos a descer para Drave... O caminho aqui era fácil... Um estradão largo que literalmente cortava a encosta, nada a condizer com a beleza da serra, mas pronto...
Fomos conversando e trocando algumas impressões, até que chegamos a Drave, uma aldeia que para mim tinha um significado especial... Já lá tinha estado em criança, com uns 10 ou 11 anos, quando ainda lá vivia gente... Agora não tem residentes fixos, mas é a base de um grupo de escuteiros...
Na altura o que interessava é que era lá o 2º abastecimento, aos 28km... Apenas havia líquidos, bebi um pouco de tudo o que havia, enchi o "cantil" e segui...
Continuei de novo com o Emílio, que tinha um ritmo parecido ao meu e se revelou uma excelente companhia...
Em 2011 o percurso à saída de Drave era logo a subir, mas este ano foi diferente... Seguimos o leito de um rio, que nesta fase se encontrava quase seco... A progressão tinha que ser cuidadosa, mas nem se comparava aqueles km no Paivó... Aliás, aqui também era o rio Paivó, só que estávamos mais a montante...
Mais à frente é que o rio começou a ter mais caudal, mas aqui dava para seguir mais nas margens e menos dentro de água... E as pedras das margens também não estavam tão escorregadias, por isso o número de quedas/km não foi tão elevado...
Depois de termos molhado os pés meia dúzia de vezes afastamos-nos do rio e subimos um bocadito, fazendo uns 3km na encosta, para depois voltarmos a descer até ao rio... Pelo caminho passamos por umas casas muito arcaicas que se confundiam com currais para guardar as cabras... Qual não é o meu espanto quando ao passarmos por uma dessas casas ouço um "boa tarde", olho para a esquerda e vejo um senhor num canto à sombra, sentado num banco, com uma pequena mesa à frente e um prato já vazio, escorrendo a última pinga de tinto do copo... Ali perdido no meio da serra tinha terminado o seu almoço e eu lembrei-me que ainda não tinha almoçado... Agarro a barra que tinha aberto antes e vou dando cabo dela à medida que vamos avançando...
Começamos a descer para o rio e começo a sentir algumas dores na canela direita, na zona da ferida e também no pé direito, na parte da frente, um bocado acima do peito do pé... O meu lado direito está todo escavacado...
Vou dizendo para o Emílio que já não temos uma grande subida à muito tempo... Isto o ano passado subia mais a seguir a Drave... Agora estamos a andar muito em plano, o que quer dizer que quando subirmos vai ser mesmo a valer!
Entrámos no rio... Aqui já havia mais água e até alguns pequenos lagos, onde até sei que houve pessoal que aproveitou para dar uns mergulhos... Quando já estávamos prestes a sair do rio... Taruz!!! Mais uma queda! Numa das várias vezes em que entramos na água, meto o pé numa pedra escorregadia e não tive hipótese... Caí com o cu no chão, meio de lado... Qual lado? O direito... Bati mais uma vez com a anca e fiquei um bocado à rasca... Mas lá me levantei, aproveitei que estava na água para lavar as feridas e refrescar as pernas...
Mais à frente saímos do rio e acabaram-se as fitas! As fitas da Asics que tínhamos seguido até aqui desapareceram... Apenas haviam umas fitas brancas da EDP a subir pela serra fora... O Moutinho disse claramente no briefing para seguirmos as fitas da Asics e outras diferentes que estariam só a partir do km 60, por isso não podiam ser aquelas brancas... Olhei em redor e não via fitas da Asics para lado nenhum... As únicas fitas que haviam eram aquelas brancas... O trilho por acaso estava marcado da passagem de outros atletas e o grupo que seguia comigo já tinha começado a subir, mas eu estava na dúvida...
Não tinha rede no telemóvel para ligar ao Moutinho e também não podia ficar ali parado... Comecei a subir e a seguir as fitas brancas... Ia na dúvida, sempre olhando para trás a ver se via fitas azuis da Asics noutro local qualquer...
Ia olhando também para cima e o Emílio e o grupo onde eu seguia inicialmente já ia lá longe, mas estava determinado a recuperar o tempo perdido... Subia a um bom ritmo, sempre com os bastões em acção e aos poucos fui alcançando o pessoal que ia à minha frente... Até que apanhei rede no telemóvel e decidi ligar ao Moutinho para esclarecer a situação... O caminho era mesmo por ali, as fitas eram mesmo aquelas, ele é que se esqueceu de avisar que aquele troço estava marcado com fitas diferentes... Ok, siga a marinha! Aviso o pessoal que ia perto de mim que íamos no caminho certo e continuo a galgar terreno por ali acima...
Enquanto escrevia uma mensagem ao mister recebo um telefonema seu... Falamos durante uns minutos, digo-lhe mais ou menos como e onde estou, recebo força do outro lado e continuo a subida...
Mais à frente apareceram novamente as fitas da Asics e alcancei o Emílio... "Recuperas-te bem!" disse ele... "Vim sempre a dar-lhe!" respondi-lhe. Seguimos novamente em duo até que terminamos a dura subida que é apelidada a "subida dos 3 pinheiros", porque naquela encosta toda apenas temos 3 pinheiros perdidos lá no meio...
Chegamos ao final da subida e metemos pelo trilho que nos levaria à Póvoa das Leiras... Esta tinha sido, para mim, a subida mais dura até agora... Em 2100m de distância subimos quase 400m de desnível, praticamente 20% de inclinação, com a primeira metade da subida muito mais difícil que a segunda...
Também gostei bastante deste trilho que nos levava à Póvoa das Leiras... Muito panorâmico e certamente com muita história para contar...
Entramos no alcatrão e depois foi só descer até ao abastecimento... Antes do abastecimento vejo o pré-abastecimento ;) umas minis à nossa espera dentro de água... Agarrei logo numa e esvaziei-a em dois goles! Fiz o controlo do chip e do material obrigatório, tudo em ordem! Toca a abastecer!
Sei que comi muita coisa, mas o que me ficou mais na memória foi aquele chouriço assado! Uhmm... E as azeitonas... Xiii Tava capaz de beber outra mini... hehe
Mas tínhamos que seguir viagem... Lá segui com o Emílio, descemos mais um bocado... Passamos por uns terrenos agrícolas onde os locais laboravam, uns admirados quando viam algum atleta, outros indiferentes, porque quer haja ultra ou não a vida deles não muda e o trabalho continua...
Fizemos este troço até ao Candal quase sempre a correr porque o terreno ajudava e o abastecimento tinha-nos dado novas forças... Mas quando começamos a subir acabaram-se as forças... Eram 15h30 +/- e apesar de não estar um dia muito quente o sol estava lá no alto e ameaçava fazer estragos...
Começamos a subir e eu que até aqui me tinha safado bem nas subidas tive que penar um bocado nesta... O terreno não era mau, o piso tinha pedras grandes e por vezes alguns troços mais difíceis, mas a inclinação mata qualquer um e com aquele calor... Deixei o Emílio seguir na frente e fui tentando acompanhá-lo... Ainda tive que parar umas duas vezes durante uns segundos para ganhar fôlego... Fui comendo umas azeitonas que tinha trazido do abastecimento e bebendo muita água, até que começamos a avistar outros atletas à nossa frente... Nós podíamos vir mal, mas não éramos os que estavam pior...
E chegamos lá acima, ao ponto mais alto da prova, 1080m! Subimos 400m em 2,5km de distância, cerca de 16% de inclinação... Esta foi a subida que me custou mais a fazer durante a prova toda... Provavelmente não foi a mais longa nem a mais inclinada, mas foi na altura que estava mais calor e isso fez toda a diferença...
Aqui o Emílio avistou um colega dele que seguia umas centenas de metros à frente e foi no seu encalço... Ainda me incentivou para o acompanhar, mas eu não estava capaz... A subida tinha dado cabo de mim e embora o terreno agora fosse a descer, começava a sentir bastantes dores na canela e no pé direito... Nas subidas praticamente não sentia dores nenhumas, mas nas descidas, com o impacto e o próprio peso do corpo, tinha que ir com calma...
Daqui até ao abastecimento dos 50km em Manhouce foi sempre a descer, o que significa que foi sempre a passo e com jeitinho... Desci por uma encosta que praticamente é toda de pedra, não havia um bocado de terra para meter os pés... Passei por umas aldeias, uns troços de alcatrão e sabia que estava a chegar ao abastecimento... Corria nas partes mais planas, que era onde conseguia...
No abastecimento sabia que tinha lá a minha família à espera, a minha mãe, a minha irmã e a minha namorada Carla que já tinha feito os 17km... Quando faço uma curva e vejo o abastecimento lá ao fundo e elas a gritarem por mim, até me vieram as lágrimas ao olhos, mas consegui-me controlar... A Carla veio a correr para mim, deu-me um abraço e só me apetecia ficar ali abraçado, com ela a suportar o meu peso claro, de tão cansado que estava... hehe
Seguimos até ao abastecimento... A minha mãe estava eufórica! Nunca tinha visto o filho a correr numa prova e nem conseguia perceber muito bem como é que havia gente que "corria" 70km pela serra, com subidas e descidas, durante horas e horas e vinham de longe, no dia anterior... Mas para quê? O que é certo é que foi um apoio fundamental... No fundo deveria estar preocupadíssima comigo, mas transmitiu-me uma força enorme, a mim e a outros atletas...
Tirei umas fotos e lá me despedi delas, que não podia ficar ali o dia todo... Saí do abastecimento com 9h20 e 49km no Garmin, média de 11.25min/km... Se isto desse os 70km, ainda me faltavam 21km e podia fazê-los a uma média pior que ainda chegava antes das 14h de prova... Mas ainda tinha 2 grandes subidas e depois o PR7, o que poderia piorar bastante a média, mas isto era eu a fazer contas de cabeça...
A seguir ao abastecimento ainda desci um bom bocado, ia agora sozinho... Atravessei uns terrenos agrícolas, uns riachos, andei dentro de uma levada de água com água até à cintura, entrei num eucaliptal e tive que parar... A coca-cola que tinha bebido no abastecimento estava a dar-me vómitos... Ia vomitando, mas afinal não, foram só grandes arrotos... Ainda bem que ia sozinho... hehe
Comecei a subir novamente... A subir sentia-me bem, não me doía nada... E com os bastões a ajudar, parecia um tractor com tracção às 4 rodas...
Nesta altura da prova ia com esta música na cabeça, aliás, a partir da parte do rio veio-me este refrão à cabeça e nunca mais o consegui largar...
Com 10h de prova, o Garmin começou a perder a vida, "baterias fracas" dizia ele... Coitado, também já trabalhava à muitas horas e eu não lhe tinha ligado nenhuma... Lá o liguei ao carregador portátil a ver se o mantinha vivo...
Continuei a subir, a subida não era muito difícil, a inclinação não era demasiada... Era uma subida constante, até chegarmos ao alcatrão lá no cimo... Comecei a descer, fiz 1km em alcatrão o que me permitiu correr, com um passinho muito curto, porque a perna direita queixava-se bastante...
Passei à aldeia de Agualva e continuei a descer, agora por uma encosta cheia de pedras, onde podia ver as cabras a circular muito bem, mas eu tinha que ir com cuidados redobrados... Nas zonas mais íngremes tinha que ir o pé esquerdo sempre à frente, porque o pé e a canela direita doíam-me bastante... Os bastões nesta altura foram fundamentais! Era como se fosse com duas canadianas...
Acabou-se a descida... Uff... Já estava na aldeia da Lomba, só tinha que subir um bocado até ao abastecimento... Lá consegui chegar, passei o chip no leitor, tirei a mochila, pousei os bastões, pus o Garmin a carregar, pedi uma bifana e deitei-me no chão... Mas tive que me levantar rapidamente, senão ali ficava deitado... Ei, já tinha saudades de comida a sério! Comi a bifana e se seguida uma canja carregada de sal... Bebi uns copos de coca-cola fresquinha e preparei-me para seguir viagem...
Recebi uma carrada de telefonemas, do mister a ver se eu já tinha morrido, da minha mãe (que já estava em casa) a ver se eu ainda estava vivo, da minha irmã a ver onde se poderiam cruzar comigo para avaliar o meu estado de degradação... lol "Aos 65km!" disse-lhe eu.
Saio do abastecimento com 11h10 de prova e (para meu espanto) 57,5km no Garmin quando deveriam ser 60km... Esta diferença deveu-se, provavelmente, às alterações que foram feitas ao percurso do ano passado para este ano... Ora, se a parte final do percurso é igual à do ano passado então faltam-me só 10km para a meta... Ou seja, ainda tenho 2h50 para fazer 10km, o que me dá margem para fazer média de 17min/km daqui para a frente e terminar sub14h!
Saí do abastecimento cheio de pica! Agora sentia que estava quase na meta! 10km pfff o que é isso?! Mas não eram uns 10km nada fáceis... E de relembrar que já levo quase 60 nas pernas...
Arranjei companhia e ataquei a subida com tudo o que tinha! Na fase inicial não era muito inclinada, mas no final tivemos que trepar um bocado... O sol já se estava a querer esconder e eu queria ver se conseguia chegar sem ter que ligar o frontal... A vista era fenomenal! No final da subida estávamos nos 1000m de altitude e podíamos ver em redor uma imensidão de picos, serras e vales lindíssimos com aquele pôr do sol...
3260m de subida em que ganhamos 460m de altitude, média de 14% de inclinação... Não foi a mais inclinada, mas penso que foi a mais longa...
Chegados ao planalto deixamos de ver fitas... Penso que não foi devido à falta delas, mas por a vegetação ser baixa e nós estarmos contra o sol, o que dificultava a visão... Vimos uma pendurada num sinal de trânsito uns 150m à frente... Seguimos para lá e depois já não houve dúvidas...
Entrámos no trilho que nos levaria à Castenheira, aldeia onde estava o último abastecimento aos 63km no meu Garmin... Vejo o meu pai à minha espera uns metros antes do abastecimento... Muito mais calmo que a minha mãe, menos efusivo, mas não menos orgulhoso!
A prova, organizada pela Confraria Trotamontes e pelo Grupo Desportivo Leões do Veneza, contou com duas distâncias à escolha. Os 70km para os mais corajosos e bem preparados e os 17km para quem quisesse algo mais curto, mas ao mesmo tempo desafiante.
Eu, claro está, aventurei-me nos 70km. A Carla ficou-se pelos nada fáceis 17km que incluíam a parte inicial e os últimos 5km da ultra, com direito ao famoso PR7 e tudo!
No dia anterior (sexta-feira) viajamos para o norte... Uma viagem de 330km, sempre cansativa, mas necessária. À noite dirigimos-nos ao parque de campismo para levantarmos os dorsais e assistirmos ao briefing.
Foto: Joana |
No briefing o Moutinho falou principalmente acerca dos primeiros 40km da prova, que embora passando pelos mesmos pontos chave do ano passado, teriam alguns troços de ligação diferentes, com menos alcatrão e mais trilhos... Falou dos trilhos novos que tinham aberto, trilho do carteiro, trilho dos Incas, dos Aztecas e outros que não me lembro do nome... Falou da dureza da prova, subidas longas e bastante difíceis e da necessidade de controlarmos o ritmo nos primeiros 17km até ao rio...
Tivemos uma ideia do que seriam os abastecimentos, bem compostos e quem quisesse mais que levasse consigo...
Para quem ainda não soubesse foram falados os tempos limite de passagem em 3 pontos da prova: Covelo do Paivó (20km - 5h), Póvoa das Leiras (40km - 10h) e Lomba (59km - 15h).
Foi-nos dada a informação de quais seriam as marcações utilizadas e outros aspectos da prova...
Para mim o briefing serviu para me consciencializar, novamente, de quão dura seria a prova e da gestão do esforço que teria que ser feita para levar aquilo por diante...
Os objectivos que tinha traçado antes do briefing eram:
- Objectivos principais: Chegar ao fim dentro do tempo limite (17h30), não partir nenhuma perna e tentar divertir-me!
- Objectivo realista: Chegar antes da meia noite (16h de prova)
- Objectivo já a puxar para o bom demais: Chegar antes das 22h (14h de prova)
Altimetria de 2011, este ano com algumas alterações principalmente entre o km 28 e o km 40. |
Mas lá fui para casa, dormir sobre o assunto e recarregar energias para o dia seguinte. Deitei-me já perto da 1h da manhã, custou-me a adormecer e levantei-me às 5h30! Passa pela cabeça de alguém ir fazer um trail de 70km com 4h de sono?! Só mesmo para malucos...
E não éramos poucos! Chegamos ao parque de campismo por volta das 7 e picos da manhã... Caía uma chuva miudinha e havia algum nevoeiro no ar... Já tínhamos os dorsais e os chips, decidimos ficar dentro do carro à espera da hora...
7h30 a chuva parou, fui equipar-me a ver se não me esquecia de nada... Passei no controlo do chip e aguardei calmamente pelo início da prova, sem aquecimento nem nada, não era preciso, tinha muito tempo para aquecer...
Frescura antes da partida. Foto: Carla. |
Preparado para a luta. Foto: Carla |
Sempre prevenido. Foto: Carla |
Momentos antes da partida. Foto: Carla |
Uns minutos depois das 8h é dada a partida e lá vão eles para 70km pela serra!
Optei por partir mesmo na cauda do pelotão... No início não queria grandes velocidades e partir no meio da confusão só iria fazer com que acelerasse demasiado no início e desperdiçasse energias preciosas...
Uns metros após a partida, na cauda do pelotão. Foto: Lina Branco Batista |
Os primeiros km foram feitos em total descontracção, primeiro num caminho largo que nos levava até à Frecha da Mizarela para podermos contemplar o que nos esperava nos últimos km da prova... Só de olhar para aquele vale até mete medo e com o nevoeiro tornava-se num cenário quase que assustador...
Mas o caminho ainda não era para ali... Seguimos em direcção à aldeia de Albergaria da Serra, passamos por uns parques de merendas e atravessamos o rio Caima, mas ainda não foi desta que molhamos os pés...
Estes km iniciais não apresentavam grandes dificuldades, embora passássemos por uns caminhos mais estreitos, sobre pedras escorregadias, onde pude começar a observar as primeiras quedas da malta...
Havia muita gente a parar para guardar os corta-ventos nas mochilas e eu aos poucos fui ultrapassando alguns atletas...
O trilho acompanhava agora as margens do rio Caima, até que se deu o primeiro e único engano do dia... Uns 20 ou 30m fora do percurso, levado pela distracção e pelos atletas que seguiam à minha frente...
Depressa retomei o caminho certo e segui viagem... Olhei para trás a já via um grande grupo de 15 ou 20 atletas atrás de mim, mais alguns que ainda seguiam mais para trás...
Estávamos no planalto da serra, praticamente nos 1000m de altitude, com o dia a nascer, o nevoeiro mais baixo tinha desaparecido, mas o céu estava coberto de nuvens... Já íamos vendo algumas cabras e as típicas vacas arouquesas a despertar para o dia...
As típicas vacas de raça arouquesa. Foto: Carla |
O terreno à nossa frente era em ligeira subida, pelo que decidi preparar os bastões e colocá-los em acção... Estava a pensar só os começar a utilizar após a parte do rio, mas ia ali com eles na mão, ao menos iam trabalhando... Lá os "estiquei" e fui progredindo...
Até aos 6 km fomos sempre em ligeira subida... Aqui estava já o Moutinho, num cruzamento, a descarregar garrafões de água que mais tarde iriam servir de abastecimento aos atletas da corrida... Ao passarmos ainda nos foi avisando para termos cuidado na descida porque era muito fácil, demasiado fácil para os km que ainda nos faltavam...
A partir daqui começamos a descer por um estradão largo... Fui sempre controlando o ritmo, devagar devagarinho, como se fosse num passeio... Ainda parei a meio da descida para contemplar o vale onde seguíamos...
Até +/- ao km 9 a descida fez-se bem, sem grandes dificuldades... Aqui apanhámos um trilho muito engraçado, escondido no meio das árvores, que acompanhava uma levada de água até à aldeia de Tebilhão...
Na aldeia vejo uma atleta a voltar para trás a caminhar... Perguntei-lhe se estava tudo bem, respondeu-me que sim... Fiquei a pensar que talvez tivesse perdido o chip e estivesse à procura dele... Mais à frente cruzo-me com mais 3 ou 4 atletas a voltar para trás e pergunto o que se passa, dizem que vão ter com a Patrícia... Mais tarde vim a saber que a atleta caiu, ficou mal tratada dos joelhos e veio a desistir... na altura deveria ser a 4ª ou 5ª mulher...
A seguir a Tebilhão descemos mais um bocado, e apanhámos uma pequena subida até à aldeia de Cabreiros ao km 12, onde se encontrava o 1º controlo... Não havia ninguém junto do controlo, mas pelas informações em cartazes no local, era mesmo para colocarmos os chip... Os chips eram daqueles da orientação... Lá inseri o chip no leitor e segui viagem...
Aos 12km... Antes do 1º controlo... (Foto: José Brito) |
Aqui tinha início a 2ª parte da descida... Um troço com bastante inclinação, em que era necessário muita calma para descer devagar, de forma a não massacrar desde já os músculos das coxas...
Fiz a descida praticamente toda com o Francisco Mira Gaio... Claramente esta não era a posição dele, atleta que está habituado aos lugares da frente e a ritmos bastante mais rápidos... Mas ia com queixas nos gémeos e nos pés e estava a pensar desistir no próximo abastecimento... Lá fomos conversando por ali abaixo até chegarmos ao rio de Frades onde ele ficou com as pernas de molho a ver se as dores aliviavam...
Aqui, aos 14km, no rio de Frades, tivemos uma amostra do que seria o Paivó lá mais à frente... Fizemos uns metros no rio, cruzando-o uma ou duas vezes... Nada de complicado, o leito do rio era baixo, com algumas pedras fora de água e nesta altura ainda tentava ver qual era a melhor forma de o atravessar sem molhar os pés...
Saímos do rio, subimos uns metros e damos de caras com o famoso túnel que o Moutinho nos tinha falado no briefing! O túnel tinha talvez uns 80 ou 100m, e era impossível de se fazer sem recorrer à luz do frontal, pelo menos era o que diziam... Como lá chegamos de surpresa, não ia preparado com o frontal... Como também não tinha muita vontade de o tirar da mochila decidi seguir dois atletas que iam com luz...
Pelo que pesquisei o túnel era usado nas antigas minas de Volfrâmio do rio de frades e o seu piso é excelente, pelo que por aqui não havia problema... O problema surgiu quando os dois atletas que seguiam à minha frente se começaram a distanciar e eu fiquei sem luz, mais ou menos a meio do túnel... Totalmente às escuras, só via um pontinho de luz literalmente ao fundo do túnel... Pois bem, não tinha outra hipótese que não fosse avançar... Usei os bastões e fui "apalpando" terreno à minha frente e dos lados para ver se não batia em nada... Fui-me aproximando do final do túnel e uns metros antes da saída consigo evitar uma cabeçada no tecto e uma pedra que se encontrava mesmo no meio do caminho, ainda agora não sei bem como...
Saio do túnel e respiro de alívio depois de o ter conseguido ultrapassar sem luz e sem nenhum acidente... Olho à minha volta e começo a ver as ruínas das antigas minas de Volfrâmio de Rio de Frades nas margens do rio, que outrora forneceram minério aos alemães para a I e II Guerras Mundiais... São lugares com muita história, mas naquele momento não tinha tempo para isso, mas hei-de lá voltar brevemente...
Atravessamos a aldeia de Rio de Frades fazendo umas centenas de metros em alcatrão e entramos novamente nos trilhos... Passamos uma zona de eucaliptal, com vários obstáculos a dificultar a progressão e entramos novamente no alcatrão...
Umas centenas de metros em alcatrão e sabia que a entrada no rio Paivó estava à porta... Virámos à esquerda para uma descida em terra e já se via o rio lá em baixo...
Entramos no rio aos 17,8km a só haveríamos de lá sair aos 20,5km... Foram quase 3km de espectáculo principalmente de equilibrismo...
Ao início tentei seguir os atletas que iam à minha frente, tentando ir pelas rochas das margens... Mas estávamos num vale, onde o sol ainda mal tinha aparecido e as rochas, mesmo aquelas que estavam fora de água, estavam húmidas e escorregadias... Dei as primeiras escorregadelas, mas consegui manter-me de pé...
Mais à frente estava farto de saltar de rocha em rocha e decidi aventurar-me pela água... Fiz uns metros dentro de água mas esta opção também acarretava os seus riscos... O leito do rio era bastante irregular, com bastantes rochas também elas escorregadias devido ao lodo...
Regressei a "terra"... Quando menos esperava, numa rocha lisa, demasiado lisa, escorrego e estatelo-me na rocha e por pouco não fui directo à água... Caí de lado... Fiquei logo com bastantes dores no cotovelo direito e na anca direita... Balbuciei uns palavrões e levantei-me calmamente, avaliando os estragos... Dava para continuar, que remédio...
Tentei continuar, com cuidados redobrados, mas as escorregadelas dentro e fora de água começaram a ser uma constante... Até se tornou engraçado, não fossem as mazelas começarem a aparecer...
Apanho um pequeno troço numa margem que dava para correr e dou um trotezinho... Faço uns metros e pimba!!! Uma valente canelada numa rocha que estava escondida atrás dumas ervas! Atirei-me logo para o chão cheio de dores e vociferei toda uma panóplia de palavrões, obscenidades e afins...
De realçar que os dois atletas que seguiam perto de mim de imediato perguntaram se estava tudo bem... Claro que não estava tudo bem, mas fiquei agradecido por demonstrarem preocupação... Fiquei uns segundos sentado a avaliar os estragos e fui tentando levantar-me... A ferida não era grande, mas a pancada foi bastante forte e a minha sorte foi ser mesmo abaixo do joelho, porque se fosse no joelho estava tudo acabado para mim... Continuei com dores, ainda a quente, mas sabendo que dali a umas horas aquilo ia inchar e começar a doer ainda mais... Vá lá que não sangrou muito...
Pronto, depois disto já era difícil piorar... Mas ainda era possível... Ao transpor uma rocha com poucos apoios na margem do rio, escorreguei e fui parar dentro de água, ficando com água pelo peito... Medonhos aqueles segundos em que estamos a entrar na água e os pés nunca mais tocam no fundo! Valeu-me um atleta que me esticou os seus bastões para eu agarrar e me ajudou a subir...
Mais à frente tivemos que atravessar o rio de uma margem para a outra numa zona em que não havia nada que nos ajudasse a atravessar a não ser um tronco que ligava as duas margens... Quando cheguei ao local estavam uns 5 ou 6 atletas a ver como é que iam fazer... Depois de avaliar a situação vi que a melhor opção era ir a nado, mas como as minhas habilidades aquáticas não são grande coisa, tive que ir a nado, mas agarrado ao tronco... Prendi os bastões na mochila, "amandei-me" à água e agarrei-me ao tronco... Fui batendo os pés e progredindo até que... Tau!!! Uma patada numa rocha! Aqui já tinha esgotado todo o meu vocabulário no que a palavrões diz respeito, por isso só me restou chegar à outra margem, levantar-me e continuar...
Estes foram os grandes percalços do rio... Foram cerca de 2,5km em 53min, o que dá uma média de mais de 21min/km! Saí de lá inteiro, mas mais tarde viria a sofrer as consequências dos pequenos acidentes...
À saída do rio Paivó, subimos uma pequena barreira até chegarmos a uma estrada... No alcatrão, a descer, fiquei admirado de como ainda conseguia correr, praticamente sem dores...
Umas centenas de metros em alcatrão e estávamos no primeiro abastecimento em Covelo de Paivó, aos 20km... Aqui ia com 3h30 de prova e ainda só tinha dado umas dentadas numa barra que levava comigo... Aproveitei para alimentar-me bem porque o próximo abastecimento (28km) era só líquidos e depois só tínhamos sólidos aos 40km... Comi de tudo o que havia e no final enchi o reservatório da água para seguir viagem... Despi o corta vento, dado que a temperatura já estava mais agradável, tirei as pedras das sapatilhas e ala que se faz tarde...
Saímos de Covelo de Paivó e seguimos por uma estrada rural, depois num estradão onde tivemos que abrandar o passo para nos cruzarmos com 2 vacas arouquesas sem as assustar...
Aos 22km o terreno começou a inclinar e vi que ia começar a festa... O trilho era bastante bonito, piso com pedras ali colocadas pelo homem à muitos anos e uma vista lindíssima... Mais à frente abandonamos esse trilho de progressão fácil e começamos a subir a subir pelo meio do mato, num trilho recentemente aberto, de difícil progressão e com uma inclinação brutal! Em 700m de distância subimos cerca de 190m de desnível, praticamente 30% de inclinação...
O suor corria-me pela testa e pela cara e pingava-me pelo nariz e pelo queixo... Até aqui tinha sido uma brincadeira... Agora é que começava a festa rija! Os bastões trabalhavam mais que nunca e ajudavam-me a subir sem ter que suportar todo o meu peso com as pernas... Era como se estivesse a subir agarrado a uma corda...
Vencida que estava esta etapa continuamos a subir até Regoufe, mas agora com muito menos inclinação... Aproveitei que tinha rede no telemóvel para mandar mensagem ao mister João Carlos Correia a dar o ponto da situação... Recebi uma mensagem de incentivo e a informação de que a transmissão online da prova não estaria a funcionar...
"Visitamos" Regoufe mesmo só de passagem, mas deu para ver a beleza característica destas aldeias da Serra da Freita e ainda para beber água numa torneira ao pé dumas casas...
À saída de Regoufe começamos novamente a subir, mas desta vez apenas tínhamos a inclinação como adversária, já que o trilho era amplo e sem obstáculos...
Chegado lá acima, uma vista ampla, serras e vales de perder de vista que nos mostram toda a sua imensidão... Para trás ficava Regoufe, seguíamos agora em direcção a Drave...
Aqui "apanhei" boleia de um atleta, Emílio Vilas Boas que me acompanharia durante grande parte do resto da prova... Começamos a descer para Drave... O caminho aqui era fácil... Um estradão largo que literalmente cortava a encosta, nada a condizer com a beleza da serra, mas pronto...
Fomos conversando e trocando algumas impressões, até que chegamos a Drave, uma aldeia que para mim tinha um significado especial... Já lá tinha estado em criança, com uns 10 ou 11 anos, quando ainda lá vivia gente... Agora não tem residentes fixos, mas é a base de um grupo de escuteiros...
Na altura o que interessava é que era lá o 2º abastecimento, aos 28km... Apenas havia líquidos, bebi um pouco de tudo o que havia, enchi o "cantil" e segui...
Continuei de novo com o Emílio, que tinha um ritmo parecido ao meu e se revelou uma excelente companhia...
Em 2011 o percurso à saída de Drave era logo a subir, mas este ano foi diferente... Seguimos o leito de um rio, que nesta fase se encontrava quase seco... A progressão tinha que ser cuidadosa, mas nem se comparava aqueles km no Paivó... Aliás, aqui também era o rio Paivó, só que estávamos mais a montante...
Mais à frente é que o rio começou a ter mais caudal, mas aqui dava para seguir mais nas margens e menos dentro de água... E as pedras das margens também não estavam tão escorregadias, por isso o número de quedas/km não foi tão elevado...
Depois de termos molhado os pés meia dúzia de vezes afastamos-nos do rio e subimos um bocadito, fazendo uns 3km na encosta, para depois voltarmos a descer até ao rio... Pelo caminho passamos por umas casas muito arcaicas que se confundiam com currais para guardar as cabras... Qual não é o meu espanto quando ao passarmos por uma dessas casas ouço um "boa tarde", olho para a esquerda e vejo um senhor num canto à sombra, sentado num banco, com uma pequena mesa à frente e um prato já vazio, escorrendo a última pinga de tinto do copo... Ali perdido no meio da serra tinha terminado o seu almoço e eu lembrei-me que ainda não tinha almoçado... Agarro a barra que tinha aberto antes e vou dando cabo dela à medida que vamos avançando...
Começamos a descer para o rio e começo a sentir algumas dores na canela direita, na zona da ferida e também no pé direito, na parte da frente, um bocado acima do peito do pé... O meu lado direito está todo escavacado...
Vou dizendo para o Emílio que já não temos uma grande subida à muito tempo... Isto o ano passado subia mais a seguir a Drave... Agora estamos a andar muito em plano, o que quer dizer que quando subirmos vai ser mesmo a valer!
Entrámos no rio... Aqui já havia mais água e até alguns pequenos lagos, onde até sei que houve pessoal que aproveitou para dar uns mergulhos... Quando já estávamos prestes a sair do rio... Taruz!!! Mais uma queda! Numa das várias vezes em que entramos na água, meto o pé numa pedra escorregadia e não tive hipótese... Caí com o cu no chão, meio de lado... Qual lado? O direito... Bati mais uma vez com a anca e fiquei um bocado à rasca... Mas lá me levantei, aproveitei que estava na água para lavar as feridas e refrescar as pernas...
Mais à frente saímos do rio e acabaram-se as fitas! As fitas da Asics que tínhamos seguido até aqui desapareceram... Apenas haviam umas fitas brancas da EDP a subir pela serra fora... O Moutinho disse claramente no briefing para seguirmos as fitas da Asics e outras diferentes que estariam só a partir do km 60, por isso não podiam ser aquelas brancas... Olhei em redor e não via fitas da Asics para lado nenhum... As únicas fitas que haviam eram aquelas brancas... O trilho por acaso estava marcado da passagem de outros atletas e o grupo que seguia comigo já tinha começado a subir, mas eu estava na dúvida...
Não tinha rede no telemóvel para ligar ao Moutinho e também não podia ficar ali parado... Comecei a subir e a seguir as fitas brancas... Ia na dúvida, sempre olhando para trás a ver se via fitas azuis da Asics noutro local qualquer...
Ia olhando também para cima e o Emílio e o grupo onde eu seguia inicialmente já ia lá longe, mas estava determinado a recuperar o tempo perdido... Subia a um bom ritmo, sempre com os bastões em acção e aos poucos fui alcançando o pessoal que ia à minha frente... Até que apanhei rede no telemóvel e decidi ligar ao Moutinho para esclarecer a situação... O caminho era mesmo por ali, as fitas eram mesmo aquelas, ele é que se esqueceu de avisar que aquele troço estava marcado com fitas diferentes... Ok, siga a marinha! Aviso o pessoal que ia perto de mim que íamos no caminho certo e continuo a galgar terreno por ali acima...
Enquanto escrevia uma mensagem ao mister recebo um telefonema seu... Falamos durante uns minutos, digo-lhe mais ou menos como e onde estou, recebo força do outro lado e continuo a subida...
Mais à frente apareceram novamente as fitas da Asics e alcancei o Emílio... "Recuperas-te bem!" disse ele... "Vim sempre a dar-lhe!" respondi-lhe. Seguimos novamente em duo até que terminamos a dura subida que é apelidada a "subida dos 3 pinheiros", porque naquela encosta toda apenas temos 3 pinheiros perdidos lá no meio...
Subida dos 3 pinheiros, longa longa, com as 3 benditas árvores lá no meio... Foto: Trekking Portugal |
Chegamos ao final da subida e metemos pelo trilho que nos levaria à Póvoa das Leiras... Esta tinha sido, para mim, a subida mais dura até agora... Em 2100m de distância subimos quase 400m de desnível, praticamente 20% de inclinação, com a primeira metade da subida muito mais difícil que a segunda...
Também gostei bastante deste trilho que nos levava à Póvoa das Leiras... Muito panorâmico e certamente com muita história para contar...
Panorâmica do trilho que nos levaria à Póvoa das Leiras. Foto: proaventuras |
Um belo trilho! Com o Emílio. Foto: proaventuras |
Entramos no alcatrão e depois foi só descer até ao abastecimento... Antes do abastecimento vejo o pré-abastecimento ;) umas minis à nossa espera dentro de água... Agarrei logo numa e esvaziei-a em dois goles! Fiz o controlo do chip e do material obrigatório, tudo em ordem! Toca a abastecer!
O pré-abastecimento ;) Foto: proaventuras |
Sei que comi muita coisa, mas o que me ficou mais na memória foi aquele chouriço assado! Uhmm... E as azeitonas... Xiii Tava capaz de beber outra mini... hehe
Um brinde? Foto: Lina Branco Batista |
Fresquinha! Foto: Lina Branco Batista |
Mas tínhamos que seguir viagem... Lá segui com o Emílio, descemos mais um bocado... Passamos por uns terrenos agrícolas onde os locais laboravam, uns admirados quando viam algum atleta, outros indiferentes, porque quer haja ultra ou não a vida deles não muda e o trabalho continua...
Fizemos este troço até ao Candal quase sempre a correr porque o terreno ajudava e o abastecimento tinha-nos dado novas forças... Mas quando começamos a subir acabaram-se as forças... Eram 15h30 +/- e apesar de não estar um dia muito quente o sol estava lá no alto e ameaçava fazer estragos...
Começamos a subir e eu que até aqui me tinha safado bem nas subidas tive que penar um bocado nesta... O terreno não era mau, o piso tinha pedras grandes e por vezes alguns troços mais difíceis, mas a inclinação mata qualquer um e com aquele calor... Deixei o Emílio seguir na frente e fui tentando acompanhá-lo... Ainda tive que parar umas duas vezes durante uns segundos para ganhar fôlego... Fui comendo umas azeitonas que tinha trazido do abastecimento e bebendo muita água, até que começamos a avistar outros atletas à nossa frente... Nós podíamos vir mal, mas não éramos os que estavam pior...
E chegamos lá acima, ao ponto mais alto da prova, 1080m! Subimos 400m em 2,5km de distância, cerca de 16% de inclinação... Esta foi a subida que me custou mais a fazer durante a prova toda... Provavelmente não foi a mais longa nem a mais inclinada, mas foi na altura que estava mais calor e isso fez toda a diferença...
Aqui o Emílio avistou um colega dele que seguia umas centenas de metros à frente e foi no seu encalço... Ainda me incentivou para o acompanhar, mas eu não estava capaz... A subida tinha dado cabo de mim e embora o terreno agora fosse a descer, começava a sentir bastantes dores na canela e no pé direito... Nas subidas praticamente não sentia dores nenhumas, mas nas descidas, com o impacto e o próprio peso do corpo, tinha que ir com calma...
Daqui até ao abastecimento dos 50km em Manhouce foi sempre a descer, o que significa que foi sempre a passo e com jeitinho... Desci por uma encosta que praticamente é toda de pedra, não havia um bocado de terra para meter os pés... Passei por umas aldeias, uns troços de alcatrão e sabia que estava a chegar ao abastecimento... Corria nas partes mais planas, que era onde conseguia...
No abastecimento sabia que tinha lá a minha família à espera, a minha mãe, a minha irmã e a minha namorada Carla que já tinha feito os 17km... Quando faço uma curva e vejo o abastecimento lá ao fundo e elas a gritarem por mim, até me vieram as lágrimas ao olhos, mas consegui-me controlar... A Carla veio a correr para mim, deu-me um abraço e só me apetecia ficar ali abraçado, com ela a suportar o meu peso claro, de tão cansado que estava... hehe
O reencontro... Foto: Joana |
Foto: Joana |
A felicidade da mãe... e do filho! Foto: Joana |
Seguimos até ao abastecimento... A minha mãe estava eufórica! Nunca tinha visto o filho a correr numa prova e nem conseguia perceber muito bem como é que havia gente que "corria" 70km pela serra, com subidas e descidas, durante horas e horas e vinham de longe, no dia anterior... Mas para quê? O que é certo é que foi um apoio fundamental... No fundo deveria estar preocupadíssima comigo, mas transmitiu-me uma força enorme, a mim e a outros atletas...
Foto: proaventuras |
Com a Carla. Foto: Joana |
Com a mãe. Foto: Joana |
Tirei umas fotos e lá me despedi delas, que não podia ficar ali o dia todo... Saí do abastecimento com 9h20 e 49km no Garmin, média de 11.25min/km... Se isto desse os 70km, ainda me faltavam 21km e podia fazê-los a uma média pior que ainda chegava antes das 14h de prova... Mas ainda tinha 2 grandes subidas e depois o PR7, o que poderia piorar bastante a média, mas isto era eu a fazer contas de cabeça...
A seguir ao abastecimento ainda desci um bom bocado, ia agora sozinho... Atravessei uns terrenos agrícolas, uns riachos, andei dentro de uma levada de água com água até à cintura, entrei num eucaliptal e tive que parar... A coca-cola que tinha bebido no abastecimento estava a dar-me vómitos... Ia vomitando, mas afinal não, foram só grandes arrotos... Ainda bem que ia sozinho... hehe
Comecei a subir novamente... A subir sentia-me bem, não me doía nada... E com os bastões a ajudar, parecia um tractor com tracção às 4 rodas...
Com 10h de prova, o Garmin começou a perder a vida, "baterias fracas" dizia ele... Coitado, também já trabalhava à muitas horas e eu não lhe tinha ligado nenhuma... Lá o liguei ao carregador portátil a ver se o mantinha vivo...
Continuei a subir, a subida não era muito difícil, a inclinação não era demasiada... Era uma subida constante, até chegarmos ao alcatrão lá no cimo... Comecei a descer, fiz 1km em alcatrão o que me permitiu correr, com um passinho muito curto, porque a perna direita queixava-se bastante...
Passei à aldeia de Agualva e continuei a descer, agora por uma encosta cheia de pedras, onde podia ver as cabras a circular muito bem, mas eu tinha que ir com cuidados redobrados... Nas zonas mais íngremes tinha que ir o pé esquerdo sempre à frente, porque o pé e a canela direita doíam-me bastante... Os bastões nesta altura foram fundamentais! Era como se fosse com duas canadianas...
Acabou-se a descida... Uff... Já estava na aldeia da Lomba, só tinha que subir um bocado até ao abastecimento... Lá consegui chegar, passei o chip no leitor, tirei a mochila, pousei os bastões, pus o Garmin a carregar, pedi uma bifana e deitei-me no chão... Mas tive que me levantar rapidamente, senão ali ficava deitado... Ei, já tinha saudades de comida a sério! Comi a bifana e se seguida uma canja carregada de sal... Bebi uns copos de coca-cola fresquinha e preparei-me para seguir viagem...
Ah bela bifana! Foto: Elisabete Martins |
Foto: Elisabete Martins. |
Recebi uma carrada de telefonemas, do mister a ver se eu já tinha morrido, da minha mãe (que já estava em casa) a ver se eu ainda estava vivo, da minha irmã a ver onde se poderiam cruzar comigo para avaliar o meu estado de degradação... lol "Aos 65km!" disse-lhe eu.
Saio do abastecimento com 11h10 de prova e (para meu espanto) 57,5km no Garmin quando deveriam ser 60km... Esta diferença deveu-se, provavelmente, às alterações que foram feitas ao percurso do ano passado para este ano... Ora, se a parte final do percurso é igual à do ano passado então faltam-me só 10km para a meta... Ou seja, ainda tenho 2h50 para fazer 10km, o que me dá margem para fazer média de 17min/km daqui para a frente e terminar sub14h!
Saí do abastecimento cheio de pica! Agora sentia que estava quase na meta! 10km pfff o que é isso?! Mas não eram uns 10km nada fáceis... E de relembrar que já levo quase 60 nas pernas...
Arranjei companhia e ataquei a subida com tudo o que tinha! Na fase inicial não era muito inclinada, mas no final tivemos que trepar um bocado... O sol já se estava a querer esconder e eu queria ver se conseguia chegar sem ter que ligar o frontal... A vista era fenomenal! No final da subida estávamos nos 1000m de altitude e podíamos ver em redor uma imensidão de picos, serras e vales lindíssimos com aquele pôr do sol...
3260m de subida em que ganhamos 460m de altitude, média de 14% de inclinação... Não foi a mais inclinada, mas penso que foi a mais longa...
Chegados ao planalto deixamos de ver fitas... Penso que não foi devido à falta delas, mas por a vegetação ser baixa e nós estarmos contra o sol, o que dificultava a visão... Vimos uma pendurada num sinal de trânsito uns 150m à frente... Seguimos para lá e depois já não houve dúvidas...
Entrámos no trilho que nos levaria à Castenheira, aldeia onde estava o último abastecimento aos 63km no meu Garmin... Vejo o meu pai à minha espera uns metros antes do abastecimento... Muito mais calmo que a minha mãe, menos efusivo, mas não menos orgulhoso!
Bem escoltado! Foto: Joana |
Seguimos até ao abastecimento e aqui é que reparei que não tinha bebido praticamente nada desde o último abastecimento e já não enchia o reservatório da mochila desde os 50km. A temperatura agora estava mais fresca e o manjar na Lomba tirou-me a fome e a sede...
Aqui apenas bebi uns copos de isotónico... Resolvi vestir o corta vento, porque estava a escurecer e a temperatura a baixar rapidamente... Saí do abastecimento com 12h20 e faltavam-me cerca de 5km... Tinha 1h40 para cumprir o objectivo das 14h!
Rapidamente alcancei o meu companheiro da subida anterior, Rui Maia, e lá fomos nós até ao PR7... O PR7 é um percurso pedestre com cerca de 7km de seu nome "Nas Escarpas da Mizarela"... Penso que o nome diz quase tudo...Aqui na prova iríamos fazer cerca de 4km do PR7, 3km junto à Frecha da Mizarela (uma das mais altas cascatas da Europa) e mais 1km na chegada à meta...
E porquê tanto alarido em volta do PR7?! Porque aqueles 3km em redor da Frecha da Mizarela são diabólicos! É impossível correr, pelo menos em segurança e a tecnicidade do terreno é de altíssimo nível...
Quando comecei a ver as marcas do percurso pedestre disse logo para o meu colega "Olha, estamos a entrar no PR7!" ao que ele me respondeu "O quê?! O que é isso?!" eu só lhe disse "É um percurso pedestre bastante técnico, temos que ir até ali abaixo e voltar a subir para o outro lado..." Depois deixei-o descobrir por ele próprio...
Eu já conhecia o percurso, já o tinha feito aqui, mas no sentido inverso... Agora fazê-lo numa prova, já com mais de 65km nas pernas, com a noite a cair... Devo dizer que deu-me imenso gozo e apesar do cansaço acumulado adorei o troço e sem isto a Freita não era a mesma coisa...
No final do PR7, escondidos na encosta, no meio das árvores, a luz já não era muita... Mas estávamos quase a chegar à estrada e não me apetecia ligar o frontal... Chegamos à estrada e estava feito... Aqui já nada me impedia de chegar à meta...
Só para ficarem com uma ideia deste troço do PR7 deixo aqui alguns dados:
Distância: 2,72km
Desnível: D-240m/D+240m
Duração: 56min
Média: 20.35min/km
Durinho durinho...
Subimos até entrarmos novamente no caminho que fazia ligação ao parque de campismo... Faltava cerca de 1km que foi feito já quase em total escuridão...
100m para a meta, anunciam os nossos nomes e começo a ouvir a festa da minha família! Cruzo o pórtico, faço a leitura do chip e já está!
Venci a Freita!
13h 32min e 25s depois de ter partido, estou de regresso ao mesmo local, super contente e satisfeito por ter conseguido chegar ao fim! Mas mais contente ainda por ter tido a oportunidade de passear pela Freita, conhecendo várias aldeias recônditas, passando por lugares onde pouca gente passa, ver aquelas vistas, respirar aquele ar da serra e reviver algumas memórias de infância... Tudo isto porque, como se costuma dizer no mundo da ultra distância, "O mais importante não é a meta, mas sim o caminho que percorremos para lá chegar"
E como devem ter reparado, não foi fácil chegar ao fim... Apesar de ter cumprido o meu objectivo mais ambicioso, ainda agora não percebo bem como consegui manter uma mentalidade positiva durante toda a prova apesar das quedas, do desconforto e das dores... A presença da família no terreno, além das mensagens e telefonemas de apoio do pessoal do ACP, foram preciosos para não desanimar! Além disso, os bastões foram importantíssimos para me suportar quando as forças fraquejavam...
É como disse já várias vezes... Num trail com distâncias maiores que os 40km e duração superior às 6 ou 7h, a mente é tanto ou mais importante que o corpo! Nesta minha prova, fiz os primeiros 40km com o corpo... O resto foi feito com a cabeça a dizer ao corpo para andar para a frente...
Resultados
Alguns dados da minha prova:
Distância: 67,67km
Tempo: 13h33m03s
Ganho de elevação: 3464m
Perda de elevação: 3455m
Com a irmã. Foto: Carla |
Aqui apenas bebi uns copos de isotónico... Resolvi vestir o corta vento, porque estava a escurecer e a temperatura a baixar rapidamente... Saí do abastecimento com 12h20 e faltavam-me cerca de 5km... Tinha 1h40 para cumprir o objectivo das 14h!
Preparado para o assalto final. Foto: Joana |
Rapidamente alcancei o meu companheiro da subida anterior, Rui Maia, e lá fomos nós até ao PR7... O PR7 é um percurso pedestre com cerca de 7km de seu nome "Nas Escarpas da Mizarela"... Penso que o nome diz quase tudo...Aqui na prova iríamos fazer cerca de 4km do PR7, 3km junto à Frecha da Mizarela (uma das mais altas cascatas da Europa) e mais 1km na chegada à meta...
E porquê tanto alarido em volta do PR7?! Porque aqueles 3km em redor da Frecha da Mizarela são diabólicos! É impossível correr, pelo menos em segurança e a tecnicidade do terreno é de altíssimo nível...
Quando comecei a ver as marcas do percurso pedestre disse logo para o meu colega "Olha, estamos a entrar no PR7!" ao que ele me respondeu "O quê?! O que é isso?!" eu só lhe disse "É um percurso pedestre bastante técnico, temos que ir até ali abaixo e voltar a subir para o outro lado..." Depois deixei-o descobrir por ele próprio...
Eu já conhecia o percurso, já o tinha feito aqui, mas no sentido inverso... Agora fazê-lo numa prova, já com mais de 65km nas pernas, com a noite a cair... Devo dizer que deu-me imenso gozo e apesar do cansaço acumulado adorei o troço e sem isto a Freita não era a mesma coisa...
No final do PR7, escondidos na encosta, no meio das árvores, a luz já não era muita... Mas estávamos quase a chegar à estrada e não me apetecia ligar o frontal... Chegamos à estrada e estava feito... Aqui já nada me impedia de chegar à meta...
Só para ficarem com uma ideia deste troço do PR7 deixo aqui alguns dados:
Distância: 2,72km
Desnível: D-240m/D+240m
Duração: 56min
Média: 20.35min/km
Durinho durinho...
Foto: Joana |
Frecha da Mizarela. Foto: Joana |
A vontade de chegar... Foto: Joana. |
Subimos até entrarmos novamente no caminho que fazia ligação ao parque de campismo... Faltava cerca de 1km que foi feito já quase em total escuridão...
100m para a meta, anunciam os nossos nomes e começo a ouvir a festa da minha família! Cruzo o pórtico, faço a leitura do chip e já está!
Venci a Freita!
Ai, que canseira... :) Foto: Joana |
Tá feita! Foto: Carla |
13h 32min e 25s depois de ter partido, estou de regresso ao mesmo local, super contente e satisfeito por ter conseguido chegar ao fim! Mas mais contente ainda por ter tido a oportunidade de passear pela Freita, conhecendo várias aldeias recônditas, passando por lugares onde pouca gente passa, ver aquelas vistas, respirar aquele ar da serra e reviver algumas memórias de infância... Tudo isto porque, como se costuma dizer no mundo da ultra distância, "O mais importante não é a meta, mas sim o caminho que percorremos para lá chegar"
E como devem ter reparado, não foi fácil chegar ao fim... Apesar de ter cumprido o meu objectivo mais ambicioso, ainda agora não percebo bem como consegui manter uma mentalidade positiva durante toda a prova apesar das quedas, do desconforto e das dores... A presença da família no terreno, além das mensagens e telefonemas de apoio do pessoal do ACP, foram preciosos para não desanimar! Além disso, os bastões foram importantíssimos para me suportar quando as forças fraquejavam...
É como disse já várias vezes... Num trail com distâncias maiores que os 40km e duração superior às 6 ou 7h, a mente é tanto ou mais importante que o corpo! Nesta minha prova, fiz os primeiros 40km com o corpo... O resto foi feito com a cabeça a dizer ao corpo para andar para a frente...
Resultados
Alguns dados da minha prova:
Distância: 67,67km
Tempo: 13h33m03s
Ganho de elevação: 3464m
Perda de elevação: 3455m
T-shirt da prova, dorsal, prato de lembrança e a minha cábula com a altimetria. |
O vencedor masculino e da geral foi o Luís Mota (ACR de Santa Cita - Tomar) que fez o percurso em menos 4h37min que eu, precisando de apenas 8h55 para chegar à meta, ele que dizia que ia lá só passear...
A vencedora feminina foi a Carmen Pires (ACS Mamede) que terminou no 31º lugar da geral com um tempo de 11h46.
Eu terminei em 63º de 129 atletas chegados à meta (houve 38 desistências) e 41º de 72 nos seniores masculinos com um tempo oficial de 13h 32.25
Em relação à organização da prova, eu pessoalmente não tenho grandes falhas a apontar... A marcação estava razoável, o suficiente para ninguém se perder, tirando aquele pormenor das fitas diferentes...
Os abastecimentos estavam bem compostos, sem esquecer as bifanas e a canjinha quente que soube muito bem...
Houve alguma confusão na entrega dos sacos com os dorsais e os chips, mas isso compreende-se que a culpa não foi da organização, têm é que rever a quem encomendam esse material, as datas em que fazem a encomenda e a data em que ele vos chega às mãos, porque receberem os dorsais e os chips poucas horas antes do início da prova é no mínimo arriscado...
Houve alguma falta de apoio a nível de bombeiros, o que transmitiu um sentimento de insegurança a muita gente... A organização também já se justificou dizendo que os bombeiros requisitados não compareceram e não avisaram, mas uma malinha de primeiros socorros com umas compressas, betadine e adesivo é o suficiente para desinfectar uma ferida, e isso poderia e deveria haver em todos os postos de abastecimento...
Eu tomei banho de água quente e jantei minimamente bem, mas houve pessoal da corrida que tomou banho de água fria, esperou eternidades para almoçar e teve que comer de pé sem grandes condições...
O preço das inscrições... 45€ até se aceita, mas é para inscrições nos últimos dias do prazo... Deveriam ter inscrições mais baratas para quem se inscreve-se com antecedência... Talvez se tivessem inscrições a 20 ou 30€ para quem se inscreve-se com antecedência, tinham esgotado as inscrições e até ganhavam mais...
A hora da partida... Para um tempo limite de 17h30, podiam fazer a partida mais cedo, tipo 6 da manhã... Os primeiros chegavam às 15/16h e os últimos chegavam antes das 23h30, apanhando apenas umas 2h de noite e com pouca gente a fazer o PR7 de noite...
O percurso é lindíssimo e durinho como a gente gosta... Houve muita gente a reclamar da parte do rio e do PR7 à noite ser perigoso... Claro que é perigoso, mas aí cabe-nos a nós atletas termos cuidados redobrados para minimizarmos o risco... Uma queda ou outra é normal, um pé torcido, uns arranhões, faz parte...
A vencedora feminina foi a Carmen Pires (ACS Mamede) que terminou no 31º lugar da geral com um tempo de 11h46.
Eu terminei em 63º de 129 atletas chegados à meta (houve 38 desistências) e 41º de 72 nos seniores masculinos com um tempo oficial de 13h 32.25
Em relação à organização da prova, eu pessoalmente não tenho grandes falhas a apontar... A marcação estava razoável, o suficiente para ninguém se perder, tirando aquele pormenor das fitas diferentes...
Os abastecimentos estavam bem compostos, sem esquecer as bifanas e a canjinha quente que soube muito bem...
Houve alguma confusão na entrega dos sacos com os dorsais e os chips, mas isso compreende-se que a culpa não foi da organização, têm é que rever a quem encomendam esse material, as datas em que fazem a encomenda e a data em que ele vos chega às mãos, porque receberem os dorsais e os chips poucas horas antes do início da prova é no mínimo arriscado...
Houve alguma falta de apoio a nível de bombeiros, o que transmitiu um sentimento de insegurança a muita gente... A organização também já se justificou dizendo que os bombeiros requisitados não compareceram e não avisaram, mas uma malinha de primeiros socorros com umas compressas, betadine e adesivo é o suficiente para desinfectar uma ferida, e isso poderia e deveria haver em todos os postos de abastecimento...
Eu tomei banho de água quente e jantei minimamente bem, mas houve pessoal da corrida que tomou banho de água fria, esperou eternidades para almoçar e teve que comer de pé sem grandes condições...
O preço das inscrições... 45€ até se aceita, mas é para inscrições nos últimos dias do prazo... Deveriam ter inscrições mais baratas para quem se inscreve-se com antecedência... Talvez se tivessem inscrições a 20 ou 30€ para quem se inscreve-se com antecedência, tinham esgotado as inscrições e até ganhavam mais...
A hora da partida... Para um tempo limite de 17h30, podiam fazer a partida mais cedo, tipo 6 da manhã... Os primeiros chegavam às 15/16h e os últimos chegavam antes das 23h30, apanhando apenas umas 2h de noite e com pouca gente a fazer o PR7 de noite...
O percurso é lindíssimo e durinho como a gente gosta... Houve muita gente a reclamar da parte do rio e do PR7 à noite ser perigoso... Claro que é perigoso, mas aí cabe-nos a nós atletas termos cuidados redobrados para minimizarmos o risco... Uma queda ou outra é normal, um pé torcido, uns arranhões, faz parte...
Eu não tirava a parte do rio nem o PR7! É isso que caracteriza a Freita! E quem lá vai já sabe ao que vai... Vi gente que não tinha a mínima noção da altimetria e do tipo de terreno que ia encontrar...
Tenho a certeza que para 2013 a organização vai colmatar as falhas que surgiram e para quem gostar deste tipo de terreno, esta é a prova!
Fico-me por aqui, que isto foi longo... Acho que demorei mais tempo a escrever o relato do que a fazer a prova... Mas cá está, para lerem e desfrutarem!
Abraço e bons treinos!
Ufa! Cheguei ao fim! Para o ano participarei. Julgo que me cansarei menos! (Brincadeira à parte de novo parabéns pela proeza porque terminar uma coisa destas é sem dúvida uma proeza). Ah ... e diz a esse gajo ... ao "míster" ... que te desampare a loja! Parece que não tem mais nada para fazer a não ser correr ou acompanhar as corridas dos outros! :)
ResponderEliminarObrigado! Mister, se participar já tem aqui o roadbook pronto a consultar! ;)
ResponderEliminarParabéns Helder, grande prova apesar dos incidentes. Toda a gente caiu, não conheço ninguém que não tivesse ido ao chão, depois a sorte fez o resto. Eu por exemplo fiz um golpe profundo num braço e a atleta que referes aleijou-se nos 2 joelhos e teve de ir ao Hospital de Arouca para fazer tratamento, tal com eu fui também. Os primeiros socorros foram inexistentes e por certo também precisaste deles.
ResponderEliminarGostei também muito do relato pois retrata quase na perfeição todas as incidências mais relevantes do que vieste na Freita, que memória!!!
Abraço.
Obrigado Adelino! Realmente, penso que era impossível fazer a prova toda sem dar algumas quedas, principalmente na parte do rio... Em relação aos primeiros socorros e apoio dos bombeiros já muito foi falado e tenho a certeza que a organização para 2013 não vai cair no mesmo erro... Pelos relatos que li de outras edições, este ano foi a excepção, não a regra...
ResponderEliminarDe qualquer forma a Freita ficará para sempre na minha memória, isso é certo!
Abraço