domingo, 17 de junho de 2012

Objectivo: Freita! - "Ai, como é que eu vou fazer 70km D+4200m!?"

Com calma! Muita calma! É assim que eu espero conseguir concluir o UTSFreita!

Mas já lá vamos... Primeiro vou falar acerca do treino de hoje... Foram 42km com D+1400m pela Serra de S. Mamede...

Passavam poucos minutos das 8h da manhã já eu e o L. Maurício tínhamos deixado o local do PAC 1 do UTSM e íamos a subir a serra... Estava previsto ter mais companhia, mas as lesões têm apoquentado alguns lobos do ACP... Uns com "patas" torcidas, outros com dores na "espinha"... Desejo-vos rápidas melhoras! Inicialmente até era para ter ido sozinho, mas diga-se de passagem que a companhia neste treino foi fundamental!

Este treino tinha vários objectivos!
Primeiro que tudo, treinar claro! Sem treino não se vai a lado nenhum... Treinar o corpo, mas também a cabecinha, que a partir de uma certa altura é o que comanda tudo!

Queria também experimentar uma nova mochila e uns bastões. Primeiro para me habituar à própria mochila, à forma de encher o reservatório da água, aos bolsos da mochila e outros pequenos aspectos... Em relação aos bastões, queria ver se me conseguia adaptar a eles, conseguir "trabalhar" bem com aqueles dois "paus" nas mãos e ver se valia a pena levá-los comigo na prova...

De realçar que fiz o treino exactamente com o mesmo equipamento que tenciono levar à prova: calções, camisola, meias e sapatilhas... Levei também o frontal na mochila, a manta térmica e o carregador portátil para o Garmin... Exactamente como se fosse para a prova! Só me faltou o corta-vento, mas esse ainda tenho que comprar um mais adequado...

Altimetria do treino: 42km D+1400/D-1400
Como se pode ver pelo gráfico, começamos logo a subir! Ou seja, os bastões entraram logo em acção! Os primeiros 2 ou 3km foram de adaptação... Será que devo avançar um bastão de cada vez ou os dois ao mesmo tempo? Foi logo a primeira questão que me coloquei... A resposta que encontrei foi: depende da situação. Havia alturas em que me parecia melhor avançar um de cada vez... Ás vezes preferia avançar com os dois... Depende do terreno e do estilo do atleta... Às vezes gostava de variar, mais que não fosse para distrair um bocado e alterar os movimentos repetitivos...

Após alguns km reparei num pormenor da mochila de hidratação que, não querendo fazer publicidade, é dos modelos mais avançados da Salomon... Reparei que o bocal por onde se suga a água apenas deixava passar uma pequena quantidade de água (e acreditem que tentei de várias maneiras). Eu estava habituado a um outro tipo em que conseguia beber mais depressa... Com este, tenho que estar ali "tempos e tempos" para conseguir dar um gole de jeito! Não é um grande defeito, acredito que seja mais uma questão de hábito... Tirando um outro pormenor que falarei mais à frente, a mochila portou-se lindamente!

Lá fomos subindo, ainda com o fresco da manhã, que duraria pouco tempo... Ontem estava previsto céu muito nublado, mas hoje de manhã o céu estava limpo. Conclusão: logo que o sol começou a subir, o calor começou a apertar!

No final da primeira subida, já estava apaixonado pelos bastões! Após o curto período de adaptação, ajudaram-me imenso! E se me ajudaram na subida, não ficaram atrás na descida... Nas subidas ajudam a dar impulso e tracção... Nas descidas aliviam o impacto e auxiliam no equilíbrio... Isto tudo, claro, se forem utilizados correctamente!

Fizemos a 2ª subida, até às antenas e quando começamos a descer comi +/- meia barra de Endurance.

Aos 14km, sabia que o terreno que se seguia era a descer e sem grandes obstáculos, decido colocar os bastões no suporte próprio da mochila. Os bastões são de alumínio, pesam cerca de 280g cada um e são constituídos por 3 secções. Compactados ficam com cerca de 65cm. Recolhi as duas secções extensíveis e coloquei-os no suporte da mochila. Não sei como são os suportes das outras mochilas, mas este mecanismo é prático e fácil de usar: (resumidamente) colocam-se as pontas dos bastões num laço de tecido que sai da base da mochila do lado esquerdo, passam-se os bastões por trás das costas de forma a que as pegas fiquem junto ao ombro direito e fixam-se as pegas com um elástico, nada mais simples!

Fiz uns 5 km com os bastões no suporte. Aos 19km voltei a precisar deles e rapidamente os retirei do suporte... Só tive foi o trabalho de os "esticar" e colocá-los novamente à medida... Coisa para se fazer em pouco mais de um minuto ou se calhar nem isso...

Aqui, apesar de não ir com muita fome, decido comer uma banana que levava comigo... Comi a banana, mas o que eu tinha era sede! Fui bebendo água, até que chegamos ao 1º ponto de abastecimento previsto, a Tasca da Cascata, em S. Julião. Felizmente estava aberta... Pedimos umas garrafas de água grandes, mas só havia das pequenas (33cl). Vieram duas para encher as mochilas... Depois mais duas para matar a sede... E ainda mais duas para acabar de encher os reservatórios...

Lá seguimos viagem bem abastecidos de água!

Aproximava-se a hora de maior calor e o golinho de água era cada vez mais frequente... Subimos, descemos um bocadinho e voltamos a subir até ao primeiro pico que tínhamos subido no início... Íamos com 28km e 4h de treino.

Dei mais uma trinca numa barra e começamos a descer... Eu ainda ia até Alegrete e voltava ao Viveiro, o L. Maurício, que foi uma excelente companhia nestas horas pela serra (Obrigado!) ia directo para o Viveiro, acabando por fazer 31km!

Antes dos 30km separámo-nos e eu continuei em direcção a Alegrete...

Como sabia que o caminho até Alegrete era fácil decidi colocar novamente os bastões no suporte... Mesmo procedimento anterior, mas depois de concluído, passados uns metros sinto os bastões a balouçar... O que é que tinha acontecido? O laço de tecido onde se encaixavam as pontas dos bastões tinha-se rompido e os bastões iam apenas fixos no suporte superior... Boa Salomon! Já tinha lido que esta mochila era frágil, mas tanto? Conclusão: o suporte para os bastões ficou inutilizado e tive que os levar na mão! Não é que seja nada de grave, provavelmente até eu sou capaz de arranjar ali uma artimanha para consertar aquilo, mas estragar-se logo à 2ª utilização... Adiante...

Até Alegrete foi sempre a descer, sem dificuldades... Mas estava a precisar de uma bebida fresquinha, então decido que vou parar no primeiro café que me aparecer em Alegrete... Não, não bebi uma mini fresquinha... Bebi uma coca-cola quase de penalti e siga a marinha!

Aproveitei para me refrescar numa fonte e tirar as pedras das sapatilhas para seguir confortavelmente até ao Viveiro... Faltavam 6km...

Este troço de Alegrete até ao final do treino foi o mais custoso! Não é que seja muito difícil, apenas sobe uns 140m em 5 km... Ou seja, é sempre em ligeira subida, com umas pequenas descidas pelo meio... Confesso que só corri nas descidas... A subida não é muito inclinada, mas é inclinada o suficiente para eu, com quase 6h de treino e 40km nas pernas, ter que caminhar... Digamos que foi um "sofrimento controlado" até chegar ao final do treino...

Cheguei cansado, com os músculos um bocado tensos, mas satisfeito com o treino!

Em casa, já tinha à minha espera na arca congeladora uns garrafões de gelo que utilizei para meter na banheira, com água fria, onde enfiei as pernas durante uns 10 minutos... Pensei que me fosse custar mais a aguentar a água gelada, mas até me senti bem... Aliviou-me as dores enquanto lá estive metido a acredito que me vá ajudar na recuperação, mas depois de lá sair é que me apercebi, por consequência do regresso das pernas à temperatura normal, que tinha corrido durante 42km, durante quase 6h com subidas e descidas pelo meio...

Agora, depois de terminado este treino e ter reflectido minimamente durante e após o mesmo, posso tirar alguns ensinamentos e conclusões acerca do treino e da forma como devo abordar a prova no próximo dia 30.

Vamos por pontos:

  • Tenho que iniciar a prova com calma;
  • Tentar manter um ritmo confortável, sem exageros;
  • Não me deixar levar pela euforia da competição, não ligar a classificações, nem tempos... O importante é chegar ao fim;
  • Tentar seguir sempre acompanhado, porque sozinho sofre-se muito mais e parece que o tempo custa mais a passar;
  • Manter uma constante hidratação e encher o reservatório da água da mochila em todos os abastecimentos;
  • Alimentar-me bem nos abastecimentos e se possível entre eles;
  • Neste treino apenas ingeri cerca de 400Kcal, quando gastei mais de 2700kcal. Deveria ter ingerido o dobro ou o triplo, o que me valeu foi que o pequeno almoço tinha sido reforçado;
  • Os bastões são uma mais-valia. Posso usá-los tanto a subir como a descer, embora tenha que ter atenção aos troços mais técnicos onde pode ser necessário ter as mãos livres;
  • Umas luvas daquelas com os dedos cortados são uma boa opção para evitar alguma fricção que possa existir com os punhos dos bastões;
  • Colocar vaselina nos locais de maior fricção: virilhas e pés;
  • Quando sentir pedras ou outros objectos estranhos dentro das sapatilhas é melhor parar e resolver a situação do que continuar e provocar bolhas;
  • A mochila é o ideal, tem espaço para tudo o que pretendo levar comigo e hoje senti-me bem com ela;
  • Traçar objectivos gerais e pequenas metas para o decorrer da prova;
  • Evitar ter pensamentos negativos ao longo da prova;
  • Manter sempre um espírito positivo, alegre e confiante;
  • Sei que vou sofrer muito, mas também espero divertir-me em proporção;

O principal período de treino está concluído, agora é relaxar nestas duas semanas que se seguem e divertir-me na Reixida...

 A reflexão também já foi iniciada e irá prolongar-se até ouvir o som da buzina no dia 30 de Junho às 8h da matina... A partir daí dá-se início à aventura que espero que tenha um final feliz!

Obrigado por lerem este "testamento"!

Bons treinos!

5 comentários:

  1. Não sei se já procuraste mas sobre o uso de bastões há bastantes vídeos técnicos como este:
    http://www.youtube.com/watch?v=gZ_K6p_zUdA
    ou este
    http://www.youtube.com/watch?v=EuuCAipLeQY&feature=related
    ou este
    http://www.youtube.com/watch?v=Oyoo5LrdolQ
    Um dia destes também experimento!

    ResponderEliminar
  2. Sim, já tinha visto alguns, mas às vezes realizar a técnica correcta não é fácil... O instinto do homem com um pau na mão fala mais alto!

    ResponderEliminar
  3. Boa Helder, relatando as incidências de um treino tanto se aprende como se ensina quem lê, são cuidados essenciais, e ás vezes pequenos pormenores, que ajudam a ter uma corrida confortável e bem conseguida. O pormenor dos bastões é muito importante já que eles permitem ter um ganho de energia de cerca de 35% se bem utilizado. Transportei os meus aí em S.Mamede nos 105kms sempre nas mãos, claro que nos treinos se deve praticar apesar de parecer incómodo, mas ao fim de algum tempo habituamo-nos a eles. Creio que que irás terminar relativamente bem o Ultra Trail da Freita, o treino que agora fizeste de 42 kms diz isso mesmo, mas cuidado a dureza da prova começa a partir dos 20kms, aí sim é necessário utilizar tudo para vencer aquilo. Abraço e até à Reixida.

    ResponderEliminar
  4. Ora boas, foi exactamente isso que eu tentei fazer... Experimentar e simular todos os aspectos como se fosse o dia da prova, para não ter surpresas... Os bastões, eu não me importo de os levar nas mãos, só tenho algum receio daqueles troços mais técnicos da Freita em que posso precisar das mãos para me agarrar e apoiar, mas os bastões também servem para isso... Abraço e vemo-nos na Reixida!

    ResponderEliminar
  5. Muito bem , estou orgulhosa :)
    Estarei pela Freita para te apoiar :D

    Continua**

    ResponderEliminar