Cartaz da prova |
Como preparação para a Maratona do Porto, tinha planeado participar numa 'Meia' mais ou menos por esta altura... A oferta até era variada, com algumas provas em solo nacional e também aqui ao lado na Estremadura espanhola a chamarem a atenção...
Optei por ir ao Porto! Apesar de em termos logísticos não ser a mais convidativa devido à distância que me separa do Porto, tinha as suas vantagens... Tinha a possibilidade de visitar os meus pais e não gastar um cêntimo em alojamento e alimentação, ver alguns amigos corredores do Norte com quem não estou muitas vezes e correr num percurso lindíssimo nas margens do Rio Douro por onde também irá passar a Maratona em Outubro...
Saí de Portalegre no sábado à noite... Por razões profissionais só perto das 23h consegui arrancar em direcção ao Norte... Cheguei a casa dos meus pais por volta das 2h da madrugada... Depressa me fui deitar e faltavam cerca de 8h para a partida quando adormeci...
Dormi cerca de 5 horas, muito menos do que aquilo que gostaria, mas as circunstâncias assim obrigaram...
Quando já estava no meio pelotão preparado para a partida com os meus amigos Basaloco, Nelson e Vítor não me sentia muito cansado, mas o cansaço estava lá...
Anunciavam cerca de 4000 atletas para a Meia Maratona e 6000 para a Mini/Caminhada... Era um mar de gente que se aglomerava por baixo da Ponte do Freixo... Felizmente havia separação dos atletas da Meia e da Mini... Mesmo assim fiquei muito longe do pórtico da partida, a uns 100m ou mais...
Estávamos nós em amena cavaqueira quando é dado o tiro de partida! Começamos a andar lentamente e quando passei na partida coloquei o relógio a contar e pelas minhas contas tinha demorado mais de 1 minuto a cá chegar...
Comecei a correr e ao mesmo tempo a tentar ultrapassar pessoal... As primeiras centenas de metros foram feitas num zigue-zague de todo o tamanho, até que decidi ir para o passeio onde havia menos gente... Mas mesmo assim era preciso ter cuidado com os espectadores que se encontravam lá, alguns com bicicletas...
Ao fim do 1º km, quando a coisa ficou mais calma, voltei para a estrada e agora já se corria mais à vontade... Nem ia a olhar para o relógio, mas sabia que ia rápido... Rápido demais para o tempo que queria fazer que era tentar aproximar-me e se possível superar a 1h30...
Perto do 2º km ouço alguém a chamar por mim... Olho para trás, era o Miguel... Ia com boa cara... Cumprimentei-o, desejei-lhe boa sorte e continuei...
Perto do 2º km ouço alguém a chamar por mim... Olho para trás, era o Miguel... Ia com boa cara... Cumprimentei-o, desejei-lhe boa sorte e continuei...
Até à Ponte Dom Luís I foi sempre a dar-lhe, fiz o 2ºkm em 3.57 e o 3º em 3.52... O tempo (ainda) estava meio encoberto e eu sentia-me bem... Inconscientemente ou não, queria aproveitar para ir ganhando alguns segundos à média final que queria fazer (abaixo dos 4.16), de forma a poder gerir a corrida na parte final de outra forma...
O balão da 1h30 estava para trás de mim, não sabia se estava muito para trás ou não, por isso só queria correr e evitar ser apanhado pelo portador do balão... Se tivesse partido ao pé do balão, provavelmente até tinha seguido com o grupo da 1h30 desde o início, mas o pacemaker da 1h30 partiu ainda mais atrás que eu, mesmo no fim de todos os atletas da Meia Maratona... Por isso fui andando a pensar que mais tarde ou mais cedo ia ser apanhado e depois seguia com eles, mas não foi bem assim...
Do lado de Gaia, após a Ponte Dom Luis I. Foto: Rui Ferreira |
Atravessámos a Ponte Dom Luis I e continuamos a acompanhar o rio Douro no seu caminho para o mar... Iríamos até à Afurada, onde estava o retorno...
Mal pusemos os pés do lado de Gaia, começaram os troços de paralelos, como se pode ver na foto acima, quando passei pelo meu amigo Rui Ferreira...
A partir daqui consegui encontrar o ritmo que pretendia, mais ou menos entre 4.10/4.20... Continuava a ganhar posições, mas as ultrapassagens eram cada vez menos frequentes...
Mais à frente, após o 4ºkm saímos dos paralelos e voltamos ao alcatrão... Os pés agradeceram...
Nesta fase começo a reparar que o pelotão à minha frente está bem composto... Havia muita gente à minha frente e lembrei-me da Meia da Ponte Vasco da Gama o ano passado quando nesta altura já ia praticamente sozinho... Das duas uma, ou sou eu que vou mais lento, ou o nível aqui está mais alto... Penso que a razão de deve à segunda opção... Depois de ver as classificações conclui que se fizesse aqui o mesmo tempo que fiz na Vasco da Gama o ano passado, ficava quase 130 posições atrás da minha classificação de Lisboa... Adiante...
Tento distrair-me, com esta posição privilegiada olho para o Porto, para a Ponte da Arrábida e de repente já os primeiros atletas se cruzam comigo... Os primeiros todos africanos, depois mais atrás surge o primeiro português o Rui Pedro Silva, depois a primeira mulher também ela africana e a primeira portuguesa nesta altura penso que já era a Leonor Carneiro...
Nesta altura já os atletas da Mini estavam quase a chegar à meta e nós podíamos vê-los na outra margem do rio a aproximarem-se da final da sua prova...
Ao passarmos debaixo da Ponte da Arrábida, mais umas centenas de metros em paralelos... E já sentia as solas dos pés a arder...
Mais à frente estava o retorno, próximo dos 7km de prova... Dou a volta no bidon e tenho que ir buscar forças para manter o ritmo... Não gosto nada destes voltas de 180º, perco sempre um bocado o ritmo e depois custa-me a encontrá-lo novamente...
A partir daqui comecei a sentir algum vento de frente... Não era muito forte, mas às vezes atrapalhava um bocado, tanto que fui tentando "esconder-me" sempre atrás de alguém...
No regresso, obviamente que fomos apanhando os mesmos troços de paralelos e antes da Ponte Dom Luis I já sentia uma bolha no pé direito...
Consegui manter o ritmo que trazia, mas o esforço estava a ser maior, tanto que as minhas pulsações agora rondavam os 190bpm, quando a minha média nas Meias Maratonas raramente ultrapassa as 180...
Passei aos 10km com 41.45, média de 4.11/km... Era hora de fazer um balanço...
Já estava a ver que ia ser difícil aguentar este ritmo até ao final... Já conheço minimamente o meu corpo e a forma como ele responde aos esforços e sei que sou capaz de aguentar 10 ou 11km a 4.10/km (como fiz no Avante com média de 180bpm), mas uma Meia Maratona é diferente...
Conclusão: sabia que ia dar o estouro, só não sabia quando e de que tamanho seria...
Foi logo a seguir... Aos 11km, aquela subidazinha de 30 ou 40m para entrarmos na ponte parecia uma enorme rampa daquelas que se apanham nos trails...
Fiz a subida já com o cansaço a apoderar-se de mim, entrei na ponte e sabia que estava tramado!
Enquanto atravessava a ponte já via a minha vida a andar 'pra trás... Ao sair da ponte, com o apoio do público ainda animei um bocado e pensei que aquilo poderia ser só passageiro... Tentei "voltar à corrida"... Mas já não dava...
Agora era vê-los a passar por mim... O meu ritmo caiu bastante, passei para os 4.40/4.50 e fui sendo ultrapassado por vários atletas...
O calor também começava a apertar... Agora do lado do Porto estávamos muito mais expostos ao sol...
O que é certo é que o pacemaker da 1h30 ainda não tinha passado por mim... Mas já não tardava muito... Foi aos 13km... E a minha única reacção foi encostar à berma para os deixar passar...
Eu que nem gosto de partir muito rápido, mas hoje não abordei a corrida da melhor forma... Os segundos que fui amealhando durante os primeiros 11km esfumaram-se em menos de nada e agora via-me ali sem forças, sem energias e ainda com 8km para percorrer...
Acho que nunca tinha quebrado tanto numa Meia Maratona... Os km finais são sempre custosos, mas quebrar tanto e tão cedo, não era normal... A sensação de "bater no muro" na Maratona deve ser mais ou menos isto... Medo!
Já que o objectivo de baixar da 1h30 tinha ido por água abaixo, foi precisamente na Maratona que fui pensando por esta altura... "Calma Hélder... Tás a treinar para a Maratona... Se baixasses da 1h30 à Meia era só um bónus... Fizeste 11km rápidos, agora fazes o resto como puderes e é mais um treino para a Maratona..." Coisas assim, para tentar desanuviar...
Aos 14km tinha os meus pais à minha espera... Foi bom passar junto deles e sentir o apoio... Mas estava tão cansado que acho que nem lhes dei a devida atenção... Agradeci, mas estava a sofrer tanto que só queria chegar ao fim e acabar com aquilo o mais depressa possível...
Fizemos o retorno após a Ponte do Freixo e aos 15km estava mais um abastecimento... Agarrei uma garrafa de água e um copo de isotónico... Para não entornar o isotónico pela cara, aproveitei a deixa e caminhei durante uns metros enquanto bebia o isotónico...
Quando dei o estouro, quase que prometi para mim que podia abrandar muito, mas caminhar nunca! Agora estava a caminhar, mas vi que não podia continuar assim muito tempo, senão o mais certo era encostar e desistir... Por isso mal acabei de beber o isotónico comecei logo a correr...
Tentava encontrar alguém a quem me pudesse "agarrar" para fazer o resto da prova, mas toda a gente me ultrapassava e eu não conseguia acompanhar ninguém...
Ouço alguém a chamar por mim e vejo o Pedro Figueira a vir na direcção oposta, vinha uns km atrás de mim ainda antes do retorno do Freixo... Não sabia que ele vinha cá... Dou-lhe um hi5 e continuo...
Estava mesmo nas lonas, ia agora a 5.00/km e não conseguia aumentar o ritmo... Tirando algumas Meias Maratonas de Montanha que já fiz, não me lembro de andar tão devagar numa prova de 21097m...
Mas não tinha outra opção... Só me restava seguir em frente e ir-me arrastando até à meta...
Passamos novamente junto à Ponte Dom Luis I, mas agora seguíamos em frente, em direcção à Foz... Logo a seguir, ao passarmos naquele túnel junto à Ribeira, mais um troço de paralelos que só terminava na zona da Alfândega...
Mais à frente, junto ao Edifício da Alfândega tínhamos música ao vivo para animar a malta... Não é que eu goste muito de música e barulho enquanto corro, mas estes sempre eram mais suaves e toleráveis do que a meia dúzia de colunas em altos berros que me iam derrubando com os seus decibéis junto ao retorno do Freixo...
Mais à frente já se avistava a Ponte da Arrábida e já começava a cheirar a meta... Seguíamos agora lado a lado com os últimos participantes da Mini, com a devida separação na via...
Passámos no Viaduto do Cais das Pedras, uma parte bem interessante em que a estrada entra pelo rio adentro e retorna à margem...
Logo a seguir na Alameda Basílio Teles estava mais uma animação de rua, com um grande grupo a dançar ao som dos últimos hits... Nem consegui prestar atenção a nada... Só queria chegar à Ponte da Arrábida, porque sabia que depois a meta estava próxima...
Ao aproximar-me da Ponte, um nevoeiro enorme tinha-se apoderado dela e praticamente só se viam os pilares junto às margens... Depois daquele calor todo até que não sabia mal entrar naquela nevoeiro fresquinho...
Passei a Arrábida, 20km... Estava quase... Era só sofrer mais um bocadinho...
Umas centenas de metros antes da meta, sinto uma mão a empurrar-me as costas e uma voz conhecida a gritar "Vá, vamos lá! O que é que estás aqui a fazer!?"... Olho para o lado e vejo o José Sousa das Lebres do Sado... Este gajo está em todo o lado... Só lhe respondi entre sorrisos e cumprimentos "Não posso... Tou morto..." Ele lá se foi embora a chamar por mim mas eu já não tinha mesmo forças...
Entrei na recta da meta, olhei para o cronómetro da prova que ainda estava na casa da 1h37... Ainda tentei acelerar ligeiramente para entrar antes da 1h38, mas também não valia a pena, mais um segundo menos um segundo, o que é que interessa?
Cruzei a meta e respirei de alívio por ter terminado... Estava exausto, tinha feito praticamente toda a 2ª metade da prova sem energias e a sofrer bastante... Mas tinha chegado ao fim!
Recebi a medalha e o saco com duas garrafas de água, isotónico, iced-tea, uma barra e uma banana e segui para a saída do funil praticamente de olhos fechados tal era o ardor que o suor me estava a provocar...
Caminhei durante uns minutos para arrefecer até que encontrei os meus pais, o Armando e o Nelson que acabou praticamente ao mesmo tempo que eu e nem o vi...
Ao dirigir-me para o carro olhei para a margem do rio e vi bastante gente "de molho"... Aproveitei e fui também refrescar as pernas... Meti-me na água fresca até à cintura e lá fiquei durante uns 5 minutos... Foi o suficiente para acelerar a recuperação...
Depois foi regressar a casa, tomar banho, almoçar e, praticamente sem descansar, pegar no carro e regressar a Portalegre ainda no mesmo dia...
Em relação à minha prestação, dá para ver que não correu como eu esperava, mas não fiquei desiludido, de todo... Consegui identificar os erros que cometi: parti rápido demais e não levava nenhum abastecimento comigo... Ultimamente tenho-me dado mal com os géis, por isso não os tenho usado, mas provavelmente naquela altura de quebra, se tivesse tomado um gel uns 5 ou 10 minutos antes, talvez tivesse passado melhor... Claro que a viagem e o pouco descanso antes da prova também tiveram influência, mas isso são coisas que eu já sabia que tinham que ser assim e sujeitei-me...
Valeu pela prova e pela experiência em si, já que nunca tinha feito nenhuma prova no Porto... Com isto tudo, também fiquei a conhecer-me melhor e aprendi que há que saber respeitar as distâncias, por mais que já as tenhamos percorrido e acima de tudo respeitar o próprio corpo, porque quando ele não quer não há volta a dar...
Em relação à organização, não tenho grande coisa a apontar... A partida estava minimamente bem organizada, com separação dos atletas da Meia e da Mini... Haviam 5 pacemakers (desde a 1h20 até às 2h), coisa que nunca tinha visto numa Meia... O percurso é bonito e praticamente plano... O que chateia um bocado são os paralelos, mas a isso não se pode fugir... Os abastecimentos não estavam maus, embora tivesse notado falta de um abastecimento entre os 6km e os 15km, eu pelo menos fiz praticamente 9km sem água, desde os 6km até aos 15km... Outra questão que coloco é para quê um abastecimento aos 20km? Porque não colocá-lo aos 19 ou 18km? Não faria mais sentido? E para quando os abastecimentos de esponjas como se faz nas Meias em Espanha? A avaliação que faço desta prova é positiva, embora este aspecto dos abastecimentos tenha que ser revisto... Em compensação o saco no final estava muito bem recheado... Concluindo, será uma prova a repetir quando houver oportunidade...
A partir daqui consegui encontrar o ritmo que pretendia, mais ou menos entre 4.10/4.20... Continuava a ganhar posições, mas as ultrapassagens eram cada vez menos frequentes...
Mais à frente, após o 4ºkm saímos dos paralelos e voltamos ao alcatrão... Os pés agradeceram...
Nesta fase começo a reparar que o pelotão à minha frente está bem composto... Havia muita gente à minha frente e lembrei-me da Meia da Ponte Vasco da Gama o ano passado quando nesta altura já ia praticamente sozinho... Das duas uma, ou sou eu que vou mais lento, ou o nível aqui está mais alto... Penso que a razão de deve à segunda opção... Depois de ver as classificações conclui que se fizesse aqui o mesmo tempo que fiz na Vasco da Gama o ano passado, ficava quase 130 posições atrás da minha classificação de Lisboa... Adiante...
Tento distrair-me, com esta posição privilegiada olho para o Porto, para a Ponte da Arrábida e de repente já os primeiros atletas se cruzam comigo... Os primeiros todos africanos, depois mais atrás surge o primeiro português o Rui Pedro Silva, depois a primeira mulher também ela africana e a primeira portuguesa nesta altura penso que já era a Leonor Carneiro...
Nesta altura já os atletas da Mini estavam quase a chegar à meta e nós podíamos vê-los na outra margem do rio a aproximarem-se da final da sua prova...
Ao passarmos debaixo da Ponte da Arrábida, mais umas centenas de metros em paralelos... E já sentia as solas dos pés a arder...
Mais à frente estava o retorno, próximo dos 7km de prova... Dou a volta no bidon e tenho que ir buscar forças para manter o ritmo... Não gosto nada destes voltas de 180º, perco sempre um bocado o ritmo e depois custa-me a encontrá-lo novamente...
A partir daqui comecei a sentir algum vento de frente... Não era muito forte, mas às vezes atrapalhava um bocado, tanto que fui tentando "esconder-me" sempre atrás de alguém...
No regresso, obviamente que fomos apanhando os mesmos troços de paralelos e antes da Ponte Dom Luis I já sentia uma bolha no pé direito...
Consegui manter o ritmo que trazia, mas o esforço estava a ser maior, tanto que as minhas pulsações agora rondavam os 190bpm, quando a minha média nas Meias Maratonas raramente ultrapassa as 180...
Passei aos 10km com 41.45, média de 4.11/km... Era hora de fazer um balanço...
Já estava a ver que ia ser difícil aguentar este ritmo até ao final... Já conheço minimamente o meu corpo e a forma como ele responde aos esforços e sei que sou capaz de aguentar 10 ou 11km a 4.10/km (como fiz no Avante com média de 180bpm), mas uma Meia Maratona é diferente...
Conclusão: sabia que ia dar o estouro, só não sabia quando e de que tamanho seria...
Foi logo a seguir... Aos 11km, aquela subidazinha de 30 ou 40m para entrarmos na ponte parecia uma enorme rampa daquelas que se apanham nos trails...
Fiz a subida já com o cansaço a apoderar-se de mim, entrei na ponte e sabia que estava tramado!
Enquanto atravessava a ponte já via a minha vida a andar 'pra trás... Ao sair da ponte, com o apoio do público ainda animei um bocado e pensei que aquilo poderia ser só passageiro... Tentei "voltar à corrida"... Mas já não dava...
Agora era vê-los a passar por mim... O meu ritmo caiu bastante, passei para os 4.40/4.50 e fui sendo ultrapassado por vários atletas...
O calor também começava a apertar... Agora do lado do Porto estávamos muito mais expostos ao sol...
O que é certo é que o pacemaker da 1h30 ainda não tinha passado por mim... Mas já não tardava muito... Foi aos 13km... E a minha única reacção foi encostar à berma para os deixar passar...
Eu que nem gosto de partir muito rápido, mas hoje não abordei a corrida da melhor forma... Os segundos que fui amealhando durante os primeiros 11km esfumaram-se em menos de nada e agora via-me ali sem forças, sem energias e ainda com 8km para percorrer...
Acho que nunca tinha quebrado tanto numa Meia Maratona... Os km finais são sempre custosos, mas quebrar tanto e tão cedo, não era normal... A sensação de "bater no muro" na Maratona deve ser mais ou menos isto... Medo!
Já que o objectivo de baixar da 1h30 tinha ido por água abaixo, foi precisamente na Maratona que fui pensando por esta altura... "Calma Hélder... Tás a treinar para a Maratona... Se baixasses da 1h30 à Meia era só um bónus... Fizeste 11km rápidos, agora fazes o resto como puderes e é mais um treino para a Maratona..." Coisas assim, para tentar desanuviar...
Aos 14km tinha os meus pais à minha espera... Foi bom passar junto deles e sentir o apoio... Mas estava tão cansado que acho que nem lhes dei a devida atenção... Agradeci, mas estava a sofrer tanto que só queria chegar ao fim e acabar com aquilo o mais depressa possível...
Fizemos o retorno após a Ponte do Freixo e aos 15km estava mais um abastecimento... Agarrei uma garrafa de água e um copo de isotónico... Para não entornar o isotónico pela cara, aproveitei a deixa e caminhei durante uns metros enquanto bebia o isotónico...
Quando dei o estouro, quase que prometi para mim que podia abrandar muito, mas caminhar nunca! Agora estava a caminhar, mas vi que não podia continuar assim muito tempo, senão o mais certo era encostar e desistir... Por isso mal acabei de beber o isotónico comecei logo a correr...
Tentava encontrar alguém a quem me pudesse "agarrar" para fazer o resto da prova, mas toda a gente me ultrapassava e eu não conseguia acompanhar ninguém...
Ouço alguém a chamar por mim e vejo o Pedro Figueira a vir na direcção oposta, vinha uns km atrás de mim ainda antes do retorno do Freixo... Não sabia que ele vinha cá... Dou-lhe um hi5 e continuo...
Estava mesmo nas lonas, ia agora a 5.00/km e não conseguia aumentar o ritmo... Tirando algumas Meias Maratonas de Montanha que já fiz, não me lembro de andar tão devagar numa prova de 21097m...
Mas não tinha outra opção... Só me restava seguir em frente e ir-me arrastando até à meta...
Passamos novamente junto à Ponte Dom Luis I, mas agora seguíamos em frente, em direcção à Foz... Logo a seguir, ao passarmos naquele túnel junto à Ribeira, mais um troço de paralelos que só terminava na zona da Alfândega...
Mais à frente, junto ao Edifício da Alfândega tínhamos música ao vivo para animar a malta... Não é que eu goste muito de música e barulho enquanto corro, mas estes sempre eram mais suaves e toleráveis do que a meia dúzia de colunas em altos berros que me iam derrubando com os seus decibéis junto ao retorno do Freixo...
Mais à frente já se avistava a Ponte da Arrábida e já começava a cheirar a meta... Seguíamos agora lado a lado com os últimos participantes da Mini, com a devida separação na via...
Passámos no Viaduto do Cais das Pedras, uma parte bem interessante em que a estrada entra pelo rio adentro e retorna à margem...
Logo a seguir na Alameda Basílio Teles estava mais uma animação de rua, com um grande grupo a dançar ao som dos últimos hits... Nem consegui prestar atenção a nada... Só queria chegar à Ponte da Arrábida, porque sabia que depois a meta estava próxima...
Ao aproximar-me da Ponte, um nevoeiro enorme tinha-se apoderado dela e praticamente só se viam os pilares junto às margens... Depois daquele calor todo até que não sabia mal entrar naquela nevoeiro fresquinho...
Passei a Arrábida, 20km... Estava quase... Era só sofrer mais um bocadinho...
Umas centenas de metros antes da meta, sinto uma mão a empurrar-me as costas e uma voz conhecida a gritar "Vá, vamos lá! O que é que estás aqui a fazer!?"... Olho para o lado e vejo o José Sousa das Lebres do Sado... Este gajo está em todo o lado... Só lhe respondi entre sorrisos e cumprimentos "Não posso... Tou morto..." Ele lá se foi embora a chamar por mim mas eu já não tinha mesmo forças...
Entrei na recta da meta, olhei para o cronómetro da prova que ainda estava na casa da 1h37... Ainda tentei acelerar ligeiramente para entrar antes da 1h38, mas também não valia a pena, mais um segundo menos um segundo, o que é que interessa?
Cruzei a meta e respirei de alívio por ter terminado... Estava exausto, tinha feito praticamente toda a 2ª metade da prova sem energias e a sofrer bastante... Mas tinha chegado ao fim!
Recebi a medalha e o saco com duas garrafas de água, isotónico, iced-tea, uma barra e uma banana e segui para a saída do funil praticamente de olhos fechados tal era o ardor que o suor me estava a provocar...
Caminhei durante uns minutos para arrefecer até que encontrei os meus pais, o Armando e o Nelson que acabou praticamente ao mesmo tempo que eu e nem o vi...
Ao dirigir-me para o carro olhei para a margem do rio e vi bastante gente "de molho"... Aproveitei e fui também refrescar as pernas... Meti-me na água fresca até à cintura e lá fiquei durante uns 5 minutos... Foi o suficiente para acelerar a recuperação...
Depois foi regressar a casa, tomar banho, almoçar e, praticamente sem descansar, pegar no carro e regressar a Portalegre ainda no mesmo dia...
Em relação à minha prestação, dá para ver que não correu como eu esperava, mas não fiquei desiludido, de todo... Consegui identificar os erros que cometi: parti rápido demais e não levava nenhum abastecimento comigo... Ultimamente tenho-me dado mal com os géis, por isso não os tenho usado, mas provavelmente naquela altura de quebra, se tivesse tomado um gel uns 5 ou 10 minutos antes, talvez tivesse passado melhor... Claro que a viagem e o pouco descanso antes da prova também tiveram influência, mas isso são coisas que eu já sabia que tinham que ser assim e sujeitei-me...
Valeu pela prova e pela experiência em si, já que nunca tinha feito nenhuma prova no Porto... Com isto tudo, também fiquei a conhecer-me melhor e aprendi que há que saber respeitar as distâncias, por mais que já as tenhamos percorrido e acima de tudo respeitar o próprio corpo, porque quando ele não quer não há volta a dar...
Em relação à organização, não tenho grande coisa a apontar... A partida estava minimamente bem organizada, com separação dos atletas da Meia e da Mini... Haviam 5 pacemakers (desde a 1h20 até às 2h), coisa que nunca tinha visto numa Meia... O percurso é bonito e praticamente plano... O que chateia um bocado são os paralelos, mas a isso não se pode fugir... Os abastecimentos não estavam maus, embora tivesse notado falta de um abastecimento entre os 6km e os 15km, eu pelo menos fiz praticamente 9km sem água, desde os 6km até aos 15km... Outra questão que coloco é para quê um abastecimento aos 20km? Porque não colocá-lo aos 19 ou 18km? Não faria mais sentido? E para quando os abastecimentos de esponjas como se faz nas Meias em Espanha? A avaliação que faço desta prova é positiva, embora este aspecto dos abastecimentos tenha que ser revisto... Em compensação o saco no final estava muito bem recheado... Concluindo, será uma prova a repetir quando houver oportunidade...
T-shirt, dorsal e medalha. |
Aqui ficam os meus tempos parciais registados no Garmin.
5km - 20'33''
10km - 41'45'' / 5km - 21'12''
15km - 1h05'01'' / 5km - 23'16''
20km - 1h30'23'' / 5km - 25'22''
21,24km - 1h36'48'' / 1,24km - 6'25''
No final, fiquei com um tempo oficial de 1h 38m 01s,
classificando-me em 714º de 3700 atletas classificados e em 229º de 1056 no
escalão de seniores masculinos.
Sem comentários:
Enviar um comentário