terça-feira, 5 de março de 2013

BRM L'Antique 200 (2013)

Vila Franca de Xira, 2 de Fevereiro de 2013

Cartaz do evento

Ora bem, já passou mais de 1 mês desde que me aventurei no meu primeiro Brevet, mas ainda vou a tempo de contar a história...

Foi em meados de 2012 que descobri os Randonneurs Portugal... Não sei como foi, mas deve ter sido por acaso, no facebook... Comecei a "investigar" e gostei do tipo de desafios a que esta gente se propõe e da maneira como são encarados... Em 2012 já me era impossível participar em algum Brevet, mas ficou cá a lembrança e a semente ficou a germinar...

E perguntam vocês, então mas que raio é isso do Brevet?!

Muito resumidamente passo a explicar... Os BRM's (Brevets Randonneurs Mondiaux) são eventos  internacionais de ciclismo de longa distância em que o espírito não competitivo, a autonomia total e a segurança são pontos essenciais... Existem em distâncias pré definidas de 200, 300, 400, 600 e 1000km... O evento mais aguardado pelos randonneurs de todo o mundo é o Paris-Brest-Paris, na distância de 1200km, que se realiza de 4 em 4 anos (o próximo é em 2015), organizado pelo Audax Club Parisien... Em Portugal os "Randonneurs Portugal" são a associação que representa o Audax Club Parisien que por sua vez é a entidade reguladora a nível mundial...

Quando soube das datas dos BRM para 2013 em Portugal, comecei logo a planear a minha vida... Tratei de alguns assuntos pendentes como o seguro de acidentes pessoais e responsabilidade civil e algum material que me iria fazer falta para esta aventura e fiz a minha inscrição no L'Antique 200, o primeiro BRM do ano organizado pelos Randonneurs Portugal...

O L'Antique 200 é um BRM um pouco diferente dos restantes que se realizam em Portugal... Como o próprio nome indica... é à antiga! Ou seja, fugindo das estradas muito bem asfaltadas de hoje em dia e também do trânsito automóvel, cruzando vários troços de empedrado e até de terra batida, desde Vila Franca de Xira até Constância e regresso... Uma verdadeira aventura para completar em 13h30 ou menos...

Então no dia 2 de Fevereiro saltei da cama eram 3h30 da madrugada, com apenas 2h dormidas... Tomei o pequeno almoço, meti tudo o que precisava no carro e lá fui até Vila Franca de Xira... Cheguei ao posto de controlo da partida/chegada eram cerca de 6h15, tendo sido quase o primeiro a chegar...

Preparei a bicicleta e todo o material que iria levar comigo desde alimentação (4 sandes, uma barra, um gel e um frasco de amendoins), líquidos (1 bidon de água e meio litro de isotónico), GPS, telemóvel, luzes, pilhas suplentes, 2 câmaras de ar suplentes e as ferramentas essenciais, material reflector (incluindo colete, banda de tornozelo e reflectores nos aros), cue sheet, dinheiro e cartão bancário...

Dirigi-me para a verificação do material obrigatório, tudo ok... Assinei o termo de responsabilidade e recebi o cartão do percurso com a indicação dos postos de controlo onde teríamos que receber um carimbo ou então responder a uma questão relacionada com o local... Tudo muito rápido, simples e eficaz... Ainda não deveriam ser 7h, ainda era de noite, faltava mais de 1h para partirmos e eu já estava pronto...

Como não conhecia ninguém fui ficando por ali a ver a bicicletas do resto do pessoal enquanto comia uma sandocha... Havia bicicletas para todos os gostos, desde bicicletas de ferro antigas com mudanças no quadro e aparência pesada... Bicicletas de BTT com roda fina adaptadas à estrada... Bicicletas estilo Caminhos de Santiago carregadas com alforges e tudo... E até máquinas XPTO em carbono das melhores marcas que por aí andam... No meio da variedade o que importa é que cada um se sinta bem com a sua montada, porque para pedalar 200km ou mais não se pode ir muito desconfortável...
No Posto de Controlo de saída, em VFX... (Foto: Randonneurs Portugal)

Perto da hora marcada para a partida (8h) foi-nos dado um resumido briefing acerca do percurso e das regras básicas que deveriam ser cumpridas...

Por volta das 8h fizemos-nos à estrada...

Descemos até à N10 e virámos para norte... Estava um pouco de vento, frio e caía uma chuva miudinha...

Seguimos pela N10 durante pouco tempo... O objectivo era fugir aos carros e as indicações do percurso diziam-nos para seguirmos para uma estrada municipal...

Fizemos uns km paralelos a uma linha férrea, passando as estações de Castanheira do Ribatejo e do Carregado, com alguns troços em empedrado, até que aos 8km temos o primeiro controlo... Foi só responder a uma questão escrevendo no cartão do percurso o nome de um certo restaurante e siga viagem...

Continuamos por uma estrada municipal até encontrarmos a N3 antes de Vila Nova da Rainha... A berma é larga e pedalamos tranquilamente, excepto quando passa um ou outro camião...

Uns km pela N3, sem grande coisa para ver, muita indústria, muitas fábricas... Até que chegamos à Azambuja com cerca de 18km... Agora é que iríamos fugir definitivamente aos carros... Atravessamos um viaduto por cima da linha férrea e ao lado tínhamos a feira local de onde vinha um cheirinho a frango assado, que apesar de ser hora de pequeno almoço, já marchava...

Seguíamos agora pela N3-3... Estamos agora a entrar na lezíria ribatejana, sem carros e piso excelente onde se pedala tranquilamente olhando para os lados a contemplar a imensidão daqueles campos...

Vou com cerca de 30km, sigo sozinho... até que... Mau! Sinto o pneu de trás vazio... Encosto para confirmar e estava mesmo... "Pode ser que não esteja furado e seja só vazio..." Ainda não tínhamos passado em nenhuma zona duvidosa, apenas tivemos umas centenas de metros de empedrado... Uns dias antes tinha ido dar uma volta na bicicleta e tinha tido um furo naquela roda, será que ainda lá estava algum pico? Pego na bomba para começar a encher e não sou capaz... A bomba está avariada! Verifico se a tenho colocada para a posição "Presta" e estava tudo ok, mas havia lá uma parte que estava danificada... Damn it! Deve ter sido quando a usei para ajudar uns BTTistas que estavam na berma da estrada com um furo à uns tempos numa das minhas voltas... Devo ter forçado aquilo na posição errada e agora quem fica a pé sou eu...

Mas eis que passa um grupo que vinha atrás de mim e me pergunta se preciso de ajuda... Sim! Lá me emprestaram uma bomba, que por sinal era igual à minha... Enchi o pneu e parece que ficou bom! Não era furo... Mais uma vez o meu agradecimento aqueles amigos que me ajudaram!

Seguimos viagem... Aproveitei a companhia para não ir sozinho... Até porque ainda tinha que confirmar se o pneu não esvaziava e não sabia se tinha ainda alguém atrás de mim para me ajudar em caso de necessidade...

Continuamos pela N3-3 passando por Reguendo da Valada, Valada até chegarmos a Porto de Muge... Mais um controlo, mais uma questão... Aproveitei para comer qualquer coisa e ver como estava o pneu... Ainda estava cheio, mas mesmo assim dei-lhe mais umas bombadas e apertei bem o pipo para ver se não voltava a esvaziar...

Próximo destino: Santarém.

Faltavam-nos cerca de 20km planos até Santarém, onde teríamos uma das subidas (poucas) do dia...

Continuei com o grupo que me tinha ajudado... Fomos conversando e soube que era tudo malta do norte, da zona do Porto... Tinham vindo de comboio durante a noite e tinham dormido pouco mais do que eu!

Até Santarém fizemos mais uma paragem para reagrupar antes de entrarmos novamente na N3... Uma sandocha para o bucho que o corpo já começava a pedir alimento...

Andámos pouco tempo na N3... Mais à frente voltamos a sair para uma estrada secundária onde tivemos algumas dúvidas com a navegação, mas como levava o percurso no GPS ia sempre confirmando se estava tudo a bater certo com a cue sheet...

Iniciámos a subida para Santarém... 2km a subir desde os 15m até aos 120m de altitude... Nada de especial... Mas para quem vinha sempre a rolar em plano desde o início, é uma subida digna de registo...

Já no centro da cidade, fomos até às Portas do Sol contemplar o rio Tejo por breves instantes, porque estávamos mesmo em cima da hora de fecho do Posto de Controlo...

Portas do Sol - Santarém. (Foto: Randonneurs Portugal)

A chegar ao Posto de Controlo. (Foto: Randonneurs Portugal)

Chegamos ao Posto de Controlo na Cafetaria Ex-Libris e recebemos o respectivo carimbo no cartão... Penso que deveríamos ser os últimos, mas ainda estávamos dentro do tempo... Aproveitei e fui comer qualquer coisa, quando reparo que não tinha trazido dinheiro! Tinha o dinheiro na bolsa da máquina fotográfica que era para ter trazido mas que acabei por deixar ficar em VFX porque estava sem bateria... Mas lembrei-me que tinha trazido o cartão multibanco... Fui levantar dinheiro rapidamente e fui comer uma empada, uma tijelada e uma coca-cola... Fiquei recomposto e pronto para mais uma carraga de km...

Partimos de Santarém, com algumas dúvidas na navegação à saída do posto de controlo, mas lá demos com o caminho... Já à saída de Santarém, mais um troço de empedrado, muito mau para a minha roda fininha...

Entre Santarém e a Golegã o percurso é bastante "rolável" e plano, com a excepção de umas subidas em Alcanhões e Vale de Figueira... Aqui o grupo foi-se dispersando... Uns para a frente, outros para trás e eu fiquei ali em posição intermédia...

Embora o dia estivesse solarengo e agradável, o vento que se fazia sentir de frente dificultava bastante a progressão a quem fosse sozinho... E naquela zona da lezíria, com terreno plano e descampado, não há forma de escaparmos ao vento...

Mas lá chegamos à Golegã, com 90km nas pernas em 5h30... Estávamos dentro da média que nos permitia chegar dentro do tempo limite, mas as paragens, que por vezes se tornavam demasiado prolongadas, poderiam deitar tudo a perder... E num grupo com 8 elementos a gestão do tempo tornava-se, por vezes, complicada...

Então, na Golegã, optei por fazer apenas uma curta paragem para encher o bidon da água e informei o resto do grupo que iria continuar... A maioria deles até ia a andar mais rápido que eu, por isso até era bem provável que me apanhassem mais à frente...

Após a Golegã, saímos da EN e desviámos-nos para uma secundária, que nos levaria até à Quinta da Cardiga, onde tínhamos mais um controlo com uma questão e onde iniciaríamos o troço de terra batida que nos levaria até Vila Nova da Barquinha...

Quinta da Cardiga. (Foto: Randonneurs Portugal)

Depois daquele pneu vazio aos 30km, ainda não tinha tido mais nenhum contratempo, mas estava receoso em relação a este km e meio de terra batida... Se furava estava feito ao bife porque não tinha bomba e a minha única salvação seria aguardar pelos companheiros que vinham atrás...

Mas lá me fiz ao piso... Davagarinho, com cuidado, evitando as pedras e os buracos e tentando fugir a tudo o que me parecesse potencialmente perigoso para os meus pneus... E cheguei ao final do estradão, são e salvo, já no alcatrão e respirei de alívio...

O troço de terra batida. (Foto: Randonneurs Portugal)

De Vila Nova da Barquinha até Constância é um tirinho, pensei eu... Mas não me lembrava é que ainda tinha que passar por Tancos e fazer aquele sobe e desce na estrada que passa junto ao Aeródromo Militar, na Escola Prática de Engenharia e na Escola de Tropas Para-Quedistas...

Fazemos a aproximação a Constância e podemos contemplar a vila, rodeada por água... O Zêzere de um lado, que vem desaguar no Tejo do outro lado... Atravessámos a ponte de ferro sobre o Zêzere e entrámos num empedrado que nos levará ao Posto de Controlo no Café Vanda, quando o meu GPS já marca quase 110km e 6h30 de viagem...

Encosto a bike, recebo o carimbo e vou directo ao balcão... Peço uma sopa, uns rissóis e uma coca-cola... Devoro aquilo tudo em 3 tempos e fico que nem um lorde...

Em Constância. (Foto: Randonneurs Portugal)

Não perco muito tempo e preparo as coisas para arrancar... Saio de Constância pelo mesmo caminho por onde vim e cruzo-me com o grupo que acompanhei até à Golegã...

Agora temos que cruzar o Tejo para a margem sul na ponte da Praia do Ribatejo... É uma ponte com circulação alternada, pelo que tenho que aguardar na fila que o semáforo fique verde... Atravesso a ponte e à saída acontece o inesperado! Há uns carris de uma linha férrea desactivada que cruzam a estrada na diagonal... Não sei se a roda ficou presa no carril ou se deslizou no metal quando ia a cruzá-la... O que é certo é que fui parar ao chão! Só senti a roda da frente a fugir-me repentinamente para a esquerda e vou desamparado com as mãos e com a cara (!) ao alcatrão...

Foi no final desta ponte... (Foto: Randonneurs Portugal)

Fiquei em estado de choque! Gemi, chorei, gritei... Agarrado à cara, não sabia se as consequências eram graves... Doía-me também a anca direita, o pulso direito e o polegar da mão esquerda, mas o que me preocupava mais de momento era a cara... Imaginem "raspar" com a pele frágil da face no alcatrão rugoso a mais de 20km/h... Acreditem que dói...

Lá me consegui levantar, olhei para a fila de carros que esperava no semáforo para atravessar a ponte e ninguém saiu das suas viaturas para me vir ajudar... É triste... Só quando o semáforo ficou verde é que arrancaram, passaram por mim e lamentaram o sucedido, mas só um condutor parou o carro e veio ter comigo a ver se precisava de alguma coisa... Fui ao espelho do carro ver como tinha a cara... Estava em mau estado, mas mesmo assim pensei que estivesse pior... Verifiquei a bicicleta e estava em condições de continuar, pelo que agradeci a disponibilidade do senhor, que no meio daquela meia dúzia de carros, foi o único que se preocupou...

Nesse mesmo instante liga-me a Carla a perguntar novidades... Belo timing! Contei-lhe o sucedido e ela ficou bastante preocupada... Mas tentei tranquilizá-la... Disse-lhe que estava em condições de continuar e que mais tarde ligava-lhe a dar novidades...

Lá me montei novamente na bike e agora só queria chegar rapidamente a Alpiarça, que era onde estava o próximo posto de controlo...

Este troço até Alpiarça não tem muita história, apesar de alguns pontos de difícil navegação... Tirando uma ou outra subidita, o percurso é ligeiramente a descer... E mesmo com alguns troços por caminhos agrícolas com alcatrão muito velho, fiz aqui os parciais mais rápidos, com médias acima dos 26km/h... Era a pressa de chegar...

Cheguei ao posto de controlo (148km) e claro está, todos os presentes ficaram espantados com o meu estado... Expliquei o que tinha sucedido e rapidamente as voluntárias trataram de arranjar gelo e desinfectante para me tratar da cara e do dedo... Foram muito prestáveis e agradeço mais uma vez toda a ajuda! Ainda me questionaram se iria continuar, mas isso nem estava em causa... Agora ainda tinha mais vontade de chegar ao fim...

Em Alpiarça. (Foto: Randonneurs Portugal)

Arranquei de Alpiarça determinado e cheio de vontade de chegar a Vila Franca de Xira... Já estava a querer ficar de noite e optei por ligar logo as luzes para ver e ser visto...

Continuamos por estradas secundárias, algumas em muito mau estado... Aos 159km tivemos mais um controlo com questão...

Mais uns caminhos agrícolas com piso muito esburacado e eu admirado em como é que ainda não tinha tido nenhum furo depois daquele pneu vazio aos 30km...

Entrámos na N118 antes de Benfica do Ribatejo e aqui já dava para rolar bem melhor... Antes de chegar a Muge, começo a avistar um randonneur umas centenas de metros à minha frente... Era uma mulher, a Ângela, a única mulher neste BRM... Estava mesmo quase a alcança-la, mas tive que parar para atender o telemóvel e perdi-a de vista... Talvez se a tivesse alcançado, não teria os contratempos que tive nos últimos 30km, mas adiante...

Atravessei o Tejo novamente para a margem norte na ponte Rainha D. Amélia... De noite com aquele piso de ferro em rede, cheio de buracos e o rio mesmo por baixo de mim, confesso que optei por nem olhar para baixo...

Ponte Rainha D. Amélia, mas quando aqui passei já era bem de noite... (Foto: Randonneurs Portugal)

Logo a seguir à ponte enganei-me no caminho e em vez de seguir junto ao muro do dique, fui pela N3-3... Mas depois de dar pelo erro, logo na primeira oportunidade virei à esquerda e entrei no caminho certo novamente...

Já era noite cerrada e qualquer distracção ou má interpretação da cue sheet dava em engano pela certa... E foi o que aconteceu na Valada novamente... Em vez de entrar na N3-3 segui em frente, pelo lado esquerdo do dique, por um caminho de terra batida... Fui dar ao mesmo sítio, mas penso que foi aqui que sucedeu o maldito do furo!

Mal saio da Valada começo a sentir o pneu vazio e nem queria acreditar... De noite, no meio do nada, sozinho, sem bomba de ar e a 30km do final... O que é que eu faço agora? Lembrei-me... A Ângela não deve de ir muito à minha frente... Vou acelerar, mesmo com o pneu furado a ver se ainda a avisto... Fiz uns 2 ou 3km a ver se via alguma luzinha vermelha, mas nada...

Desmontei da bike... Ainda tentei, sem sucesso, encher o pneu com a bomba que tinha, mas não dava mesmo... Olhei para o relógio, faltavam 30km e tinha 3h para os fazer... Se fosse a correr dava 10km/h... Vamos tentar!

Comecei a correr com a bike à mão, mas depressa vi que assim era impossível... Os sapatos que levava não eram para correr, a sola era muito dura... E depois de 180km de bicicleta quem é que consegue correr a 10km/h durante 3h?! Optei por ir fazendo umas centenas de metros a correr e depois 1 ou 2km em cima da bicicleta... Mas não era capaz de fazer muito tempo em cima da bicicleta com pneu vazio... Aquela sensação se ter o aro da roda quase no chão e saber que muito provavelmente ia a estragar o material, até me fazia doer a alma...

Cerca dos 190km, quando ia a correr com a bike à mão, tropeço nos pedais e quase caio... Não caí eu mais a bicicleta estatelou-se mais uma vez no chão... Fico desesperado! Mas porquê!? Porquê eu?! Tanto azar logo no meu primeiro BRM! Penso em desistir da ideia de chegar a tempo ao final... Não vale a pena... Procuro um número de telefone da organização na cue sheet, mas não havia... Então o que faço? Só me resta continuar... Faltavam 20km e tinha ainda 2h...

Se era para continuar, então vamos lá... Meti-me em cima da bike e lá fui eu até à Azambuja sempre a pedalar... Sabia que ia a danificar a roda, mas paciência, se fosse preciso depois comprava uma nova... Agora só queria era chegar ao final...

Da Azambuja até Vila Nova da Rainha também fui sempre a pedalar, até que tive que parar para trocar as pilhas da luz da frente... E sem eu estar à espera aparece-me a Ângela vinda de trás... Então mas... Não estavas à minha frente? Tinha-a passado sem a ver quando ela parou nas bombas de gasolina na Azambuja...

Faltavam cerca de 10km e ainda tinha 1h10... Tinha ganho algum tempo neste bocado que vim sempre em cima da bicicleta... Agora que já tinha ali apoio, diga-se bomba de ar, podia ter trocado a câmara de ar, mas naquele momento já não tinha discernimento para raciocinar em condições... Já faltava pouco e achei que ia perder muito tempo e não valia a pena, mas com certeza que valia... Eram 10km que tinha feito de forma muito mais confortável e mais rápida do que o que fiz... Mas pronto...

Fiz-me ao caminho, agora na companhia da Ângela... O percurso era praticamente o mesmo que tínhamos feito no início e sabia que iria apanhar alguns troços de empedrado... Fui sempre na bicicleta, mas no empedrado tinha mesmo que a levar à mão... Nas subidas, por muito pequenas que fossem também tinha que ir com a bicicleta à mão...

Até que finalmente chegamos ao posto de controlo da chegada, com quase 13h de Brevet... Depois de tudo o que tinha passado nestes (mais de) 210km, nem queria acreditar que tinha conseguido chegar ao fim dentro do tempo limite...

Muito resumidamente, expliquei a quem estava na chegada o porquê de ter a cara toda f*dida e os contratempos que tive durante esta aventura...

Mas cheguei ao final e estava satisfeitíssimo com isso!

Fui ao banho... E que bem que soube... E depois fui jantar a um restaurante em VFX com o pessoal do Porto (que também terminaram, mesmo a queimar as 13h30! Parabéns) e com outros randonneurs!

Eram praí 23h e eu ainda tinha que fazer a viagem de regresso a Portalegre! Ainda pensei em dormir 1h e depois arrancar, mas aproveitei que não tinha sono na altura e fiz-me à estrada... Mesmo assim tive que parar pelo caminho para dormitar 1h, tendo chegado a casa já perto das 3h da madrugada...

Mesmo com todos os contratempos que tive, considero a experiência positiva! Foi uma coisa diferente que fiz e voltarei a repetir certamente!

O registo do meu L'Antique 200 no Endomondo
e no Garmin Connect
(os últimos 10km estão mal, porque parei o GPS sem querer)

6 comentários:

  1. Muito bom Héldes. Foi uma verdadeira odisseia.

    Só um pequenino reparo, a malta do Porto não pregou olho a noite toda. Pessoalmente, quando começamos a pedalada no L'Antique, já estava acordado há 25h. Este foi também o meu primeiro BRM, assim nesses moldes e em singlespeed. Foi uma aventura das antigas, muito gratificante e muito cicloturística.

    Podes ler a minha crónica aqui. Até ao próximo, um abraço.

    ResponderEliminar
  2. Obrigado Paulo!

    Certamente que esta 1ª experiência nos vai ficar na memória...

    Por acaso já tinha encontrado o teu blog e tenho seguido os teus posts! ;)

    Abraço

    ResponderEliminar
  3. Parabéns miúdo ..na próxima vou contigo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Suponho que sejas o Bruno C., olha que o próximo são 400km! ;)

      Eliminar
  4. Ola Helder, gostei muito da tua crónica e bem vindo ao mundo dos Randonneurs. Apesar de estar habituada a pedalar sozinha e este ser o meu segundo ano nestas longas andanças, foi bom ter a tua companhia nos últimos quilómetros e uma pena não ter podido ajudar antes. Penso que deixaste de me ver na Valada porque sem eu saber a minha luzinha vermelha apagou-se com os solavancos da estrada. Mais tarde passaram por mim a Filomena e a Patrícia, voluntárias dos postos de controlo que me avisaram e depois parei para reacendê-la. Em Azambuja quando nos desencontramos tinha parado nas bombas pois a luz traseira ficou danificada definitivamente, ao cair da bicicleta, quando passei num buraco. 200kms não são "já ali", e muita coisa pode acontecer... o importante é manter o espírito positivo, não desistir e chegar ao fim com um grande sorriso.
    Abraço
    Ângela Gouveia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Ângela!
      Pois foi isso mesmo que aconteceu, porque quando tive o furo não deveria de ir muito longe de ti...
      Aprendi muito neste BRM e no dos 300km também, mas isso fica para outro dia... hehe
      Abraço e até à próxima!

      Eliminar