quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Grande Trail Serra d'Arga - 20km

Grande Trail Serra d’Arga – 20km

Dem, 23 de Outubro de 2011



Não podia faltar a esta prova! Organizada pelo ultramaratonista português mais falado dos últimos tempos, Carlos Sá de seu nome, de certeza que iria ser de grande qualidade.

Então decidimos, eu e mais 5 atletas do ACP, atacar a prova dos 20km, sendo que havia também uma distância de maratona. Os aventureiros seriam eu, JC, Vitorina, Sérgio, Paula e J. Serra.

Trail Serra d'Arga - 20km - altimetria.

No dia anterior à prova, no sábado à tarde, parti de Portalegre em direcção ao Minho. Uma viagem longa e cansativa, que na altura nem me custou fazer, tal era a vontade de chegar ao destino. Cerca de 5 horas depois e 440km volvidos encontro-me com o resto da alcateia que já tinha partido de manhã para ir assistir às Jornadas Técnicas do Trail. Jantamos em Caminha, num restaurante onde se encontravam também outros atletas que iriam participar na prova. Foi um jantar animado onde descontraímos um pouco, conversamos, rimos e claro, alimentamo-nos bem.

Chega a hora de ir para a cama descansar, repor energias para o que nos esperava no dia seguinte…

No dia D, rumamos a Dem ainda com o dia a nascer. As previsões meteorológicas apontavam para chuva e vento durante a manhã e agravamento da situação a partir da tarde, mas o dia parecia estar a começar calmo, talvez demasiado calmo…

Chegamos a Dem já depois das 8h e não assistimos à partida dos atletas da Maratona. Fomos rapidamente entregar os sacos com as coisas para tomarmos banho no final que seria em S. Lourenço.

Camelbak às costas e fui fazer o controlo para a partida. Entretanto começou a chover mais intensamente e resolvi vestir já o corta-vento que levava no camelbak, porque iria com certeza ser preciso. Comecei o meu aquecimento enquanto o Carlos Sá falava ao micro relatando-nos como seria o percurso. Faltavam uns 5 ou 10 minutos para as 9h e o Carlos Sá terminava dizendo entre dentes, talvez não querendo ser escutado, “Isto está a ficar pior.”. E realmente estava. A chuva tinha vindo para ficar, o vento ajudava e o nevoeiro já se tinha instalado à muito em redor do cume de 700m que teríamos que subir logo no início…

Coloquei-me na retaguarda do pelotão aguardando a partida e aproveitando para aquecer e alongar mais um pouco.

A minha ideia para esta prova era fazê-la de trás para a frente, por isso optei por partir atrás de toda a gente, para me obrigar a ir mais lento no início e guardar forças para o final. Eram 20km duros, com 3 subidas jeitosas, seguramente mais de 2h a progredir, por isso era preciso gerir o esforço para não quebrar na parte final…


O sino da igreja de Dem começa a marcar as 9 badaladas e os atletas acompanham-no gritando: um! dois! três!... oito! nove!!! E lá vamos nós!



A recta da partida era já a subir. Um prenúncio do que seriam os primeiros km. Teríamos que subir dos 260m aos 715m em pouco mais de 3km, com uma inclinação média de 14%(!). Era seguramente a subida mais dura e era preciso fazê-la com calma.

Fui ultrapassando naturalmente alguns atletas nesta fase inicial. Antes de sairmos do alcatrão e entrarmos na terra passo pela Paula e dou-lhe força. Entramos na terra e aqui o ritmo abrandou.

Íamos em fila indiana por ali acima, sempre de olhos no chão. O terreno tinha muitas pedras grandes onde podíamos apoiar os pés sem medo, mas também tinha muitos buracos onde ninguém quereria cair.

Fomos progredindo e num sítio mais plano e sem grandes obstáculos olho para a minha direita e vejo a aldeia de Dem, bem já lá no fundo escondendo-se entre o nevoeiro…

Continuamos a dura e inclinada subida. Tão inclinada que em vários sítios eram necessários não só os pés mas também as mãos para ajudar a trepar as rochas com mais de 1m de altura.

Começamos a aproximar-nos do cume de 715m e o nevoeiro adensa-se, encurtando o alcance da visão, o vento sopra cada vez mais forte como que tentando derrubar-nos e a chuva não pára.

- Já cá estou.

No final da subida havia o primeiro abastecimento, que era só líquido. Como levava água suficiente no camelbak não parei. Segui em direcção ao início da descida.

Ultrapassei vários atletas que tinham parado no abastecimento e fiquei sozinho. Tento alcançar um pequeno grupo que ia à minha frente para não ficar desacompanhado. Com algumas passadas largas alcanço dois ou três atletas que iam à minha frente.

Logo a seguir entrámos num estradão de terra batida com um bom piso para acelerar um pouco. Mais à frente flectimos à esquerda para uma calçada medieval. Apesar do piso molhado e das pedras da calçada, até dava para descer a um bom ritmo, desde que a atenção fosse redobrada para não haverem acidentes.

A meio da descida, numa curva, coloco mal o pé direito e sinto a articulação tibiotársica a torcer e o pé a fugir-me. Transfiro rapidamente o peso do corpo para a perna esquerda e coxeio durante uns metros. Temi pelo pior e receei que tivesse que terminar ali a prova, mas fui colocando o pé no chão aos poucos e estava tudo aparentemente normal… Continuemos.

Foram cerca de 3km sempre a descer pela calçada medieval, pulando de pedra em pedra a grande velocidade. Ou melhor, pensava eu que ia num bom ritmo, quando vejo outros dois destemidos atletas a passarem por mim ainda mais rápido por ali abaixo…

Chegamos à aldeia de S. João de Arga onde se encontrava o 2º abastecimento junto ao coreto. Agarrei uns pedaços de marmelada e uma metade de banana e continuei sem perder muito tempo.

Nesta altura da prova sentia-me bem, sem dores e com força para continuar. Aquela primeira subida tinha sido dura, mas como tinha sido feita com calma não me desgastei muito. Na descida consegui manter um bom andamento o que me deixou satisfeito.

Após o abastecimento e umas dúvidas nos cruzamentos, encontrei o Sérgio que já se tinha enganado no caminho. Continuamos juntos umas centenas de metros e fiquei a saber que deveríamos ser os primeiros da equipa. Achei estranho, porque só me lembrava de ter passado pela Paula logo no início. Não me recordava de ter passado pelo Serra, pelo JC e pela Vitorina. Nesta altura juntou-se um grupo de 10 ou 15 atletas que se tinham enganado no caminho.
 
Continuamos a descer e aí isolei-me do grupo e tentei chegar a uns dois ou três atletas que iam à minha frente. Chegamos a uma zona mais arborizada, junto a uns riachos e mais protegida do vento. Aqui o ambiente era completamente diferente do que tínhamos presenciado lá em cima no primeiro cume. Aqui não chovia, praticamente não havia nevoeiro e o vento não existia.

Ao km 9 começamos a subir. A subida era menos acentuada que a primeira e praticamente não dei por ela nesta fase inicial.

Após o km 10 chegamos ao 3º abastecimento no Mosteiro de S. João de Arga. Nem apreciei bem como era o mosteiro, foi entrar numa ponta, beber um copo de água e sair pelo portão do lado contrário.

 
Aqui descemos por um pinhal muito denso onde parecia que tinha ficado de noite. Percorremos uns metros sobre a espessa camada de caruma do pinheiro até que ouvimos uma voz à nossa esquerda “É por aqui!”.

- Será? – pensei eu.

Era mesmo, uma barreira com uma inclinação daquelas em que é preciso ir com as mãos ao chão se não queremos cair de costas, para treparmos por entre os pinheiros. Chegamos lá acima e estava um senhor de BTT que disse que nem pertencia à organização, que estava ali só a ver. Ainda bem que lá estava.

Fizemos uns metros em alcatrão e virámos à esquerda para um parque de merendas que nos levaria a um caminho pedregoso sempre a subir. Já no final da subida sou alcançado pela Vitorina que vem de trás e me diz que já se tinha perdido também.

Continuamos até ao topo da subida e cruzámo-nos com caminheiros que vinham no sentido contrário. Eles dão-nos força e agradeço.

Aqui já se fazia sentir novamente o vento forte e o nevoeiro reduziu a visibilidade a umas dezenas de metros.

Após o km 12 iniciamos a descida por uma calçada medieval idêntica à que tínhamos feito anteriormente. Uns 2km sempre a descer tal como na primeira descida. Pulando de pedra em pedra, tentando apoiar sempre bem os pés, evitando os sítios que me pareciam mais perigosos.

Deixei de ver a Vitorina atrás de mim, com certeza tinha perdido algum terreno na descida.

Entro num estradão largo de terra solta e mais à frente está um senhor que me diz para virar à esquerda. Olho para a esquerda e até tive que parar, para ver como me ia fazer ao caminho. Era uma espécie de vala, com um rasgo provavelmente feito pela água. Eram uns metros perigosos, em que havia poucos sítios para apoiarmos os pés com segurança e ainda tínhamos que contar com os caminheiros que vinham a subir.

A seguir entrei num estradão que me levaria até ao 4º abastecimento. Agarrei novamente numas marmeladas, bebi um copo de água e ainda levei um pedaço de banana para comer no caminho. Mais à frente tive que parar porque a banana me deu vómitos. Fiquei um bocado mal disposto, mas bebi uns goles de água e passado uns metros já estava recuperado.

Continuei a descer, pelas ruelas de uma aldeia até entrar numa zona de campos e terrenos agrícolas. Aqui ia sozinho, não via ninguém atrás de mim nem à frente, o que me obrigou a ir mais atento à sinalização. Entrei num caminho no meio de um pinhal que tinha sido recentemente afectado por algum incêndio. Mesmo com a chuva ainda se sentia o cheiro a queimado no ar.

Aproximei-me da zona do rio Âncora e comecei a subir. Aqui alcancei alguns atletas que iam à minha frente. O terreno era bastante escorregadio, com pedras, musgo e lodo próprio destes locais húmidos. Uma das partes mais perigosas foi quando tivemos que atravessar o rio através de umas pedras que se encontravam à superfície. Com calma e muito cuidado lá atravessei e continuamos a subir pela outra margem.


A partir daqui o grau de dificuldade não diminuiu. Continuamos a subir, sempre acompanhando a margem do rio, por trilhos estreitos e agarrando tudo o que parecia estar fixo para auxiliar a progressão.


Atravessamos uma estrada e continuamos por trilhos acompanhando a margem do rio. Havia pequenos troços em que dava para correr, mas na maior parte das vezes era preciso ir a caminhar e subir “degraus” com uma altura considerável.


Aproximávamo-nos do final e já só estava à espera de encontrar o alcatrão, para fazer o sprint final. Mais uns “degraus” e avisto o alcatrão.

Tento acelerar o ritmo, mas as pernas pareciam chumbo depois desta última subida. Concentro-me, tento esquecer os km que já fiz e penso só nos metros que faltam. Levanto a cabeça e zás! Vem uma rajada de vento que me leva o chapéu! Ainda penso em continuar e deixar o chapéu para trás, mas parei e voltei para o ir buscar a um atleta que já o tinha apanhado.

Retomo a corrida e vejo que me estou a aproximar da meta, agora é a descer. Acelero mais um pouco e ultrapasso um atleta nos metros finais. Pedem-me para mostrar o dorsal, levanto o corta-vento e mostro o nº 122.

Após a meta está a Manuela Machado que me coloca a medalha ao peito! Uma grande campeã ali debaixo de chuva a receber todos os atletas com boa disposição…

Depois de parar é que reparei que estava a chover e comecei a ficar com frio. Fui ao abastecimento comer uns bolicaos enquanto esperava pelo resto dos ACP’s.

Só nesta altura é que soube que a prova dos 42km tinha sido cancelada a meio devido às condições climatéricas. Foi uma pena, mas a segurança de todos estava em primeiro lugar e a decisão do Carlos Sá e da sua equipa foi a mais sensata.

De seguida fomos ao banho que só foi pena ser em água fria e estar algo congestionado.

Apanhámos boleia para Dem numa das carrinhas da organização e fomos ao retemperador almoço. Assistimos à entrega dos prémios, da qual há a destacar o 2º lugar na geral feminina da Vitorina Mourato e 1ª F40.

O temporal agravou-se durante a tarde e se em Dem estava daquela maneira, nem imagino com estaria nos 800m de altitude por onde passaria a Maratona.

No final disto tudo posso dizer que me classifiquei em 43º de 212 atletas que terminaram, tendo sido 26º Senior Masc. de 121 chegados, com um tempo oficial de 2h21m10s.


Alguns dados da minha prova:

Distância: 19,60km

Tempo: 2h21m21s

Ganho de elevação: 927m

Cadência média: 7:13min/km



Em relação à organização, penso que fez tudo o que estava ao seu alcance para que a prova fosse um sucesso. E mesmo com o cancelamento da Maratona e todos os contratempos gerados a partir disso, conseguiram que tudo fosse fluindo com a naturalidade possível. Da minha parte, só algumas coisas podiam ter sido melhores e uma delas foi o banho em S. Lourenço. Apenas um contentor foi muito pouco para os banhos dos atletas masculinos que seriam uns 200. E foi pena a água estar fria, com aquele frio lá fora não soube lá muito bem.
Para o próximo ano penso que o Carlos Sá e os seus colaboradores conseguirão novamente levar muitas centenas de atletas e acompanhantes até ao Minho e se o S. Pedro deixar proporcionar-lhes uma prova que ficará na memória de todos.

Classificações

Fotos realizadas e gentilmente cedidas por Carlos Lopes (Crónicas das Corridas), Rubén Huertas Otero (organização) e Rui Taxa.

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