Entroncamento, 1 de Abril de 2012
Quem diria que a minha primeira Maratona iria terminar no Entroncamento?
Pois bem, no passado dia 1 de Abril concluí os Trilhos do Almourol na distância de 42km, que ligaram a Aldeia do Mato junto à albufeira da Barragem de Castelo de Bode ao Entroncamento por trilhos!
A prova, organizada pelo CLAC - Clube de Lazer, Aventura e Competição (Entroncamento) levou várias centenas de atletas, caminheiros e acompanhantes até à terra dos fenómenos, arriscando a tornar-se ela própria num verdadeiro fenómeno!
Do Atletismo Clube de Portalegre éramos 9 atletas, 6 nos Trilhos e 3 nos Mini-Trilhos. Saímos de Portalegre ainda de noite e com o dia a amanhecer chuvoso...
Foto: Atletismo Clube de Portalegre. |
Chegamos ao Entroncamento já perto da hora de saída dos autocarros que nos iriam levar aos pontos de partida das respectivas provas... Rapidamente levantamos os sacos com os dorsais e os brindes, equipámos-nos e dirigimos-nos para os autocarros que se encontravam devidamente identificados com as numerações dos dorsais, para não haver confusões...
Chegados à Aldeia do Mato foi hora de aquecer ligeiramente, passar no controlo da partida e estávamos prontos para a Maratona!
Inicialmente tinha decidido levar o corta-vento vestido, porque o céu ameaçava chuva... Mas uns minutos antes da partida começaram a abrir-se as nuvens e sol começou a espreitar... Decidi despir o corta-vento, mas já não fui a tempo de o despachar, tive que o levar na mochila às costas...
Chega a hora e soa a buzina! E lá vamos nós em direcção ao Entroncamento...
Parti mais ou menos ali no último terço do pelotão... Começamos devagar, em corrida lenta e logo a seguir viramos à direita, para uma descida inclinada ainda em alcatrão...
Foto: Lina Branco Batista |
Chegamos ao fim da descida e estávamos prontos para a primeira subidazita do dia... Primeiro num estradão largo, mais à frente entrámos em trilhos mais estreitos em que foi preciso fazer fila indiana e abrandar o ritmo... É sempre chato ter que parar nestes sítios, esperar, caminhar um bocado e parar outra vez, etc... Mas por outro lado foi o ideal para acalmar algum ímpeto inicial que pudesse estar a surgir...
Lá fomos por ali acima, pelo meio das árvores, desviando-nos dos obstáculos até que chegamos novamente a outro estradão... Aqui já dava para correr... Continuamos por caminhos florestais e começamos a aproximar-nos da Barragem de Castelo de Bode...
Foto: João Catalão |
Fizemos alguns km ali junto à água, sempre com a albufeira da barragem à vista e chegamos à dita cuja... Após atravessarmos a enorme parede que constitui a barragem em si, estava o 1º abastecimento... Estava à espera de mais qualquer coisa, mas só havia água... Levava água comigo, mas mesmo assim decidi beber um copito para não parecer mal...
Iniciámos a descida através de uns degraus que nos iriam levar até junto ao rio... Pelo que soube, numa das edições anteriores a barragem encontrava-se a largar água no momento da passagem dos atletas... Com certeza foi uma imagem impressionante e digna de se ver, mas este ano nem uma pinga de água... Com a seca que se viveu este Inverno, não devem de haver descargas tão cedo...
Foto: Lina Branco Batista |
Fizemos umas centenas de metros em alcatrão e aproveitei para comer uma barra das que levava comigo... Já levava cerca de 1h de prova e o corpo já começava a pedir combustível...
Entramos na terra batida e de seguida nuns trilhos mais técnicos, mesmo junto à linha de água... Aqui estava na minha praia, mesmo como eu gosto... Aos ziguezagues, desviando-me das árvores, saltando troncos caídos, evitando as armadilhas, lá fomos progredindo... Seguia num grupo de cerca de 10 atletas que se tinha juntado após o abastecimento...
Ia muito bem, quando me começam a dar umas cólicas... Ai o caraças! Lá tive que encostar às boxs, num local onde ninguém desconfia e "aliviar o stress"... Vá lá que ia prevenido...
Recomposto deste episódio, estava de novo nos trilhos... Segui num estradão, tentando recuperar algum tempo perdido em relação ao grupo onde seguia...
Chego ao rio Nabão e ali estava a primeira ponte "artesanal" que iríamos atravessar, esta feita pela Escola Prática de Engenharia (penso eu)... Atravesso a ponte e aqui começava mais uma etapa a subir... Primeiro progredimos numa zona mais técnica junto ao rio, depois apanhámos um estradão por ali acima...
Já começava a recuperar posições e na subida fui ultrapassando alguns atletas que me tinham ultrapassado antes...
Num cruzamento vejo uma ambulância dos bombeiros... Ainda pensei em parar e pedir alguma coisa que ajudasse a aliviar o meu episódio intestinal, mas segui em frente... Duvido que tivessem ali algum tipo de medicamentos com eles...
Agora sentia-me melhor, fui gerindo o esforço na subida, ora caminhando nas zonas de maior inclinação, ora a correr lentamente quando o terreno o permitia...
Na descida nunca arriscava muito também... Os joelhos são o meu ponto fraco e tinha que os poupar...
O 2º abastecimento surgiu após os 16km... 'Tava mesmo à espera duma bananinha, mas também só havia líquidos... Ainda apanhei um copo dum líquido alaranjado a pensar que era isotónico, mas era sumo com gás... Optei por 2 copos de água e segui viagem...
Fizemos uns metros em alcatrão e entramos novamente nos trilhos...
Até Constância foi um sobe e desce manhoso... Normalmente corria-se bem, mas de vez em quando aparecia uma ou outra parede que nos obrigava a caminhar e acalmar o ritmo...
Passamos debaixo da auto-estrada e já se avistava Constância... Aparece o 1º controlo após a partida, +/- aos 21km... Ainda perguntei se não havia mais nenhum para trás, com medo de ter falhado algum, mas estava tudo ok!
Nesta altura começo novamente com a barriga às voltas... Já via a minha vida a andar para trás... Que sorte a minha! Porra! Lá tive que encostar novamente...
Retomei o caminho e comecei a avaliar a situação... Ia mais ou menos a meio da prova, levava cerca de 2h30 e já tinha parado duas vezes com diarreia... Estava com receio de desidratar e desmaiar-me ali num canto qualquer... Comecei então a beber água com mais frequência para repor os líquidos perdidos... Faltavam 2 ou 3 km para o próximo abastecimento e até lá iria ver como estava... Se sentisse alguma grande quebra ou uma fraqueza geral ponderaria desistir...
Deixei Constância para trás e continuei na esperança de aguentar até ao final...
O 3º abastecimento surgiu após o km 24... Aqui já havia sólidos... Comi uma mão cheia de amendoins salgados, bebi uns 2 copos de água, agarrei em 2 ou 3 pedaços de banana e segui viagem... Ia com algum receio de não aguentar até ao final, mas também não estava ali para desistir... Continuei com cautela e tentando ouvir sempre o corpo...
Seguimos por estradões e caminhos florestais e quando me apercebo estávamos junto à linha do comboio, tendo feito mesmo uns metros ali na linha... Passamos junto à estação de Almourol, onde já tinha estado uma vez e até me lembro de entrar naquele barzito e beber uma água fresquinha... Agora, se não está tudo ao abandono pelo menos parece...
Continuamos e aproximava-se o ex libris dos Trilhos do Almourol, o próprio castelo...
Parece que nas edições anteriores ainda não tinha sido possível a ida ao castelo, mas nesta 3ª edição ia concretizar-se... Quando lá chego diz-me um membro da organização que agora tinha de ir até lá ao castelo que lá havia um controlo...
Ok! Atravessei mais uma ponte, esta sobre o baixo caudal do rio Tejo ali colocada pelos militares... Subi rapidamente ao castelo, conquistando assim mais um visto no meu dorsal... Voltei a descer e a saída desta vez foi feita através de uma ponte construída pelos escuteiros, mais instável mas ao mesmo tempo mais engraçada...
Foto: José Marçal da Silva |
Seguimos viagem em direcção a Tancos, primeiro por uma zona de pedras, depois junto à linha do comboio... Entramos num estradão e sentia-me bem, com força... Estava mais aliviado, parece que aquele mau estar intestinal tinha passado...
Chegamos a Tancos, demos ali umas voltas junto ao rio num tipo de terreno algo irregular e chegamos ao 3º controlo, mais um risco no dorsal... Logo ali a seguir estava uma casa de banho pública, para quem estivesse com vontade... "Ai agora?!" pensei eu... "Agora já não é preciso..."
Cheguei ao abastecimento, mais uns amendoins para o bucho, uns pedaços de marmelada e ainda abasteci o camelbag de água que já estava vazio...
Arranquei do abastecimento na companhia do Vitorino Coragem, que me tinha passado no início, mas entretanto, após o castelo tinha-o alcançado novamente...
Abandonamos Tancos de forma discreta atravessando a linha férrea por um túnel onde quem não tivesse cuidado mandava lá uma bela marrada...
Nesta altura o calor já começava a apertar... Tanta chuva que caiu durante a noite e início da manhã e agora durante a prova nem uma pinga? Já sabia bem uns chuviscos, para arrefecer o corpo...
Neste momento já tinha passado a barreira dos 30km e já ia contando cada km que faltava... Sentia-me bem, com força, sem cansaço muscular que se notasse e decidi deixar o corpo ir... Sem me aperceber fui aumentando o ritmo...
Comecei a fazer contas e percebi que se mantivesse a média dava para fazer menos de 5h sem grandes problemas...
Até ao 5º e último abastecimento, que se situava +/- aos 36,5km foi praticamente sempre a subir... Se já estivesse desgastado e a gerir a reserva de energias teria ido mais lentamente e aproveitado as subidas mais inclinadas para caminhar... Mas como me sentia bem, fiz quase tudo a correr, pelo que ultrapassei uns 15 ou 20 atletas...
Após o abastecimento começamos a descer, aproveitei para recuperar um bocado, mas sempre mantendo um bom ritmo...
Até que nos surge uma subida inclinada que teve que ser feita a caminhar... Uma última dificuldade segundo dois elementos da organização que lá estavam...
No final da subida, mesmo antes de chegarmos a uma capela, uma atleta dos Run4Fun tem uma enorme cãibra na perna e teve que ficar ali no chão uns minutos... Eu e outro atleta que seguíamos junto dela obviamente que parámos e tentamos ajudar, mas nestas situações quanto mais se alonga pior... Disse-lhe para não alongar e tentar relaxar o músculo... Passado uns segundos foi como que instantâneo, viu-se mesmo o músculo que se encontrava excessivamente contraído a voltar à sua forma original... Ela já estava melhor e disse-nos para continuarmos...
Lá seguimos viagem... Íamos com 39km, agora era só rolar até à meta... Mas não sei o que se passou que comecei a acusar o cansaço... Ia tão bem e de repente as pernas deixaram de querer correr... Não sei se foi de ter parado aqueles minutos, mas já não conseguia correr solto... Fui-me arrastando nos últimos km...
Foto: Henrique Narciso |
40km.... 41km... Alguns atletas ultrapassam-me, inclusive a atleta dos Run4Fun que tinha sofrido o episódio de cãibras uns km atrás...
Passo por um elemento da organização que me diz que falta 1,5km... "Ok, está quase... um último esforço..."
Entro numa estrada de alcatrão e passamos sobre o IC3... "Faltam 2,5km..." diz-me outro elemento da organização... "Mau, então mas querem ver que isto está a crescer..." pensei cá pra mim...
O GPS acabava de marcar 42km e eu ainda andava ali no meio dos campos... "Ok, mais 1km de bónus também não faz mal!"
Entrei no alcatrão e já avistava o pavilhão... Ainda tive que fazer a subida do viaduto que passava por cima da linha férrea a caminhar... Comecei a descer e agora já não podia parar... Só parava lá dentro, quando corta-se a meta...
Foto: Atletismo Clube de Portalegre |
O GPS marcava 4h59, já não dava para baixar das 5h... Entrei no jardim a saudar os colegas de equipa dos Mini-Trilhos que já tinham terminado... Lá segui as fitas a ver onde aquilo me levava e não é que entrámos pela porta dos fundos?! hehe Vá lá que estava bem marcado e ninguém foi directo para os balneários...
Avisto o pórtico e o cronómetro que marcava 5.00 e alguns segundos quando entrei... E corto a meta com um salto triunfante!
Foto: Lina Branco Batista |
Estava feita a minha primeira maratona em trilhos!
Bebi uns copos de água e comecei a sentir-me meio zonzo... 42km em trilhos têm que fazer alguns estragos e o calor nas últimos horas de prova também não ajudaram nada... Não estive com meias medidas e deitei-me mesmo ali no chão do pavilhão para acalmar um bocado...
Alonguei ligeiramente e fui para a fila das massagens... Depois de uma bela massagem, fui ao banho de água quente que sabe sempre bem e ao almocinho...
Em relação à classificação, fui 93º de 275 na geral e 17º de 39 nos seniores masculinos.
Classificações e links para os vários álbuns de fotos podem ser vistas aqui no site do CLAC.
Alguns dados da minha prova:
Distância: 43,12km
Tempo: 5h01m06s
Ganho de elevação: 880m
Cadência média: 6:59min/km
Distância: 43,12km
Tempo: 5h01m06s
Ganho de elevação: 880m
Cadência média: 6:59min/km
Apesar dos percalços já referidos, soube muito bem terminar esta prova... Consegui gerir o esforço físico de forma inteligente e a nível mental o meu companheiro de cá de cima também se portou bem, o que penso ser um bom prenúncio para os 50km de Sesimbra!
Em relação à organização, esteve a um grande nível... Desde os autocarros para a partida, as marcações, o trabalho que tiveram em limpar aqueles trilhos, toda a estrutura montada no pavilhão, excelente... A única coisa que tenho a apontar como um ponto a melhorar são os abastecimentos... O primeiro abastecimento com sólidos surge um bocado tarde, mas isso pode facilmente ser ajustado numa próxima edição... De resto, 5 estrelas! Recomendo vivamente esta prova e espero repetir! Obrigado ao CLAC e a todos os que colaboraram para colocar esta prova de pé!
Excelente descrição da prova amigo!! Revivi algumas passagens do teu texto!! Parabéns!!
ResponderEliminarLPinto
Excelente relato até para o ano...
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