Lisboa, 25 de Setembro de 2011
No início desta nova época propus-me a correr esta emblemática Meia Maratona. Depois de não o poder ter feito em 2009, chegou finalmente o dia em que iria "atravessar" a Ponte Vasco da Gama a correr.
A preparação começou no início de Agosto, após o regresso das férias. Foi-se falando no balneário quem estaria interessado e o Sérgio Carinhas comprometeu-se desde logo a acompanhar-me.
Elaborei um plano de treinos com 6 semanas, apenas para me ir guiando, até porque nunca o segui à risca. Fui aumentando a quilometragem semanal, incluindo sempre um treino longo ao fim de semana e pelos menos um treino de fartlek/mudanças de ritmo durante a semana.
À medida que a data da prova se foi aproximando fui analisando a minha forma e tentando estabelecer objectivos. Senti que bater o meu recorde pessoal da 'Meia', que se situava na casa da 1h35, era possível. Embora nunca goste de estabelecer objectivos demasiado ambiciosos, fui sempre colocando a hipótese de baixar da 1h30, sabendo que seria difícil.
Nos últimos dias antes da prova comecei a preparar tudo. Equipamento, abastecimentos, alimentação, deslocação para Lisboa, etc.
Chegou o dia da prova! E como não moro propriamente perto de Lisboa, toca a levantar cedo da cama. 4h30 da manhã e já eu estava a pé a tomar o pequeno almoço.
No meio da escuridão da noite, lá fui eu e a Paula Matos em direcção a Lisboa. Pelo caminho ainda encontrámos uns atletas da casa do Benfica de Abrantes na estação de serviço de Aveiras. Curiosamente haveríamos de os encontrar novamente na partida da prova.
Chegamos a Lisboa com o dia a nascer. Dirigimo-nos ao Parque das Nações onde tínhamos combinado encontrarmo-nos com o Sérgio e o Zé Leandro. Lá nos juntamos e fomos para a zona dos autocarros. Ainda vimos o Domingos Bucho, que disse que se encontrava connosco na ponte.
Não estivemos mais do que 2 ou 3 minutos à espera do autocarro. Eram umas 8h30 quando arrancámos. Já em cima do tabuleiro da ponte, pensei que o autocarro dava meia volta e nos deixava lá, mas não! Tivemos que atravessar toda a ponte, dar a volta na área de serviço e só no regresso é que o autocarro nos deixou.
Mal saímos do autocarro dirigimo-nos imediatamente para a zona da partida, sem perder muito tempo. Coloquei o Garmin a contar e ainda andámos cerca de 1,5km. Não fiz aquecimento a correr, mas deu para aquecer um bocado a caminhar. O sol e o calor que já se fazia sentir também ajudaram a "aquecer".
Fiquei desde logo "aliviado" porque havia uma separação para os atletas da mini e para os da Meia, que partiam mais à frente separados dos da mini. Um ponto positivo, porque assim não haveriam atletas mais lentos, pessoas a caminhar e carrinhos de bebé a atrapalhar.
Fui uma última vez à casa de banho e chegámo-nos mais à frente. Os atletas VIP aqueciam junto à partida e o resto do pessoal esperava uns 200m atrás. Mesmo assim estávamos bem colocados. Ainda faltavam cerca de 30 minutos para a partida e tivemos que ficar ali de pé, sem aquecer, a levar com o sol.
Uns 10 minutos antes começamos a avançar aos poucos. Reparei logo que quando chegássemos lá à frente não iríamos ficar muito longe da linha de partida.
5 minutos e continuamos a avançar aos poucos.
2 minutos e já estamos junto aos atletas VIP. Acabámos por ficar a uns 20 metros da linha de partida, o que numa prova com mais de 3000 participantes é muito bom.
Demorei uns 20 segundos a passar a linha de partida e a partir daí já deu para começar a correr.
O espaço aumentou, o pessoal começou a dispersar por toda a largura do tabuleiro disponível e uns 200 ou 300m à frente já ia no ritmo pretendido, sem grandes ziguezagues.
Comecei a descer e o Sérgio juntou-se a mim. Disse-lhe para ir para a frente, que agora no início ia tentar ir um pouco mais lento. A minha ideia era fazer os primeiros 5km a 4:30min/km, mas sempre que olhava para o relógio ia mais rápido que isso, também pelo facto de os primeiros km serem a descer.
Uma má sensação que tive logo nos primeiros 3km e se prolongou por outros tantos, foi uma espécie de cãibra na perna esquerda, nos gémeos. Com a perna direita tudo bem e a esquerda parecia que estava meia adormecida e não queria correr. Claro que isto deveu-se à falta de aquecimento. Ainda pensei em parar e alongar, mas iria perder muito tempo e ritmo e então continuei e uns km depois acabou por passar.
Ao km 3 apareceu o 1º abastecimento. Havia água e isotónico, optei pela água. Dei uns goles, molhei as costas e as pernas e larguei a garrafa.
Continuei, sempre a tentar manter-me nos 4:30 min/km, mas ia sempre mais rápido que isso. Tinha em mente passar aos 5km com 22m30s e passei com 21m04s, quase 1m30 mais rápido do que o previsto. A minha ideia era começar mais lento e ir aumentando o ritmo ao longo da prova, mas não fui capaz de começar tão lento como pretendia. "Não faz mal" pensei eu, se for mais rápido agora, depois não preciso de aumentar tanto.
Mais ou menos por esta altura apanho novamente o Sérgio que me diz que estava um bocado mal de um joelho. Ainda pensei ir com ele um bocado, mas sentia-me bem e continuei no ritmo que trazia.
Fui ultrapassando alguns atletas e sendo ultrapassado por outros, já que não havia assim grandes grupos com ritmo idêntico. Cerca dos 6 ou 7 km sou apanhado por um atleta que seguia num ritmo idêntico ao meu. Juntei-me a ele e fui mantendo a cadência. Coincidência, mas ele tinha mais ou menos a minha altura e o comprimento da passada exactamente igual ao meu. Parecíamos espelho um do outro.
Aos 30min de prova ingeri o primeiro gel que levava, com uns valentes goles de água. Antes do gel sentia-me a quebrar um pouco, passados uns minutos melhorei. Não sei se foi do gel ou se foi psicológico, mas com certeza ajudou.
A minha previsão era passar aos 10km com 44m30s com uma média de 4:27. Passei com 42m25s com uma média de 4:15, menos 2m05s que o previsto. Se mantivesse a média de 4:15 min/km até ao final, daria para 1h30.
Nesta altura já passava das 11h da manhã e o calor apertava cada vez mais. Aproveitava cada abastecimento não só para ingerir pequenos goles de água, mas também para refrescar todo o corpo da cabeça aos pés.
Continuei a tentar manter o ritmo constante. Nesta altura já os atletas da frente regressavam no sentido contrário após o ponto de retorno.
O ponto de retorno situava-se entre o km 12 e 13. As curvas e rotundas ainda se fazem mais ou menos, mas estes pontos de viragem a 180º quebram logo o ritmo. Depressa me recompus e retomei o ritmo pretendido. Logo a seguir ao retorno mais um abastecimento, onde aproveitei novamente para me refrescar.
Durante o percurso haviam várias bandas a tocar música ao vivo para dar força à malta. Por vezes essa música ajuda a animar e a manter o ritmo, mas nesta prova, não sei porquê, a música só me desconcentrava.
Aproximava-se o km 15 e aqui iria decidir a minha prova. Se fosse possível iria tentar baixar da 1h30, senão ficaria-me entre 1h30 e 1h35.
Previa passar aos 15km com 1h5m30s com uma média de 4:22. Passei com 1h04m15s com uma média de 4:17, mais rápido que o previsto.
Olhei para o relógio várias vezes, fiz umas contas de cabeça e conclui que para baixar da 1h30 teria que fazer uma média de 4:15, ou seja, teria que recuperar 2segundos por cada km e fazer os restantes km a 4:13 ou mais rápido.
Nesta altura ainda seguia com aquele atleta que tinha encontrado no início da prova. Ele disse-me que ia para um tempo entre 1h30 e 1h35. Eu disse-lhe que se fosse possível queria baixar da 1h30. Ele respondeu-me que ia no limite e que já não dava para baixar da 1h30.
Estava decidido a deixar-me ficar por ali, mas pensei "Se queres baixar da 1h30 tens que arriscar agora!"
Vejo dois atletas, um homem e uma mulher, a passarem por nós num bom ritmo e decido seguir com eles. Despeço-me do meu parceiro de praticamente metade da prova e sigo no encalço dos outros dois.
Fui olhando para o relógio e tinha aumentado consideravelmente o ritmo, tendo passado várias vezes pelos 3:50 min/km. Tentei manter-me junto dos dois atletas e fiz o km 16 em 4:18. Continuava a perder tempo, mas forcei mais um bocado e fiz novamente o km 17 em 4:18.
Cheguei à conclusão que não iria conseguir recuperar o tempo necessário até ao final e não iria baixar da 1h30, até porque estes 2 km a esticar o ritmo já começavam a fazer mossa e ainda faltavam 4.
Comecei a abrandar, sabendo que baixar da 1h35 estava garantido e a 1h30 era impossível. Fiz os restantes 4km mais lentos, muito abaixo da média que trazia, tendo sido ultrapassado por vários atletas que iam num ritmo em crescendo.
Comecei a aproximar-me da zona da meta. Aqui haviam mais sombras e estava mais fresco. Fiz a viragem à direita e começo a avistar pórticos. Eram tantos que só estava à espera de ver qual seria o da meta, tal era a vontade de o atravessar.
Entro na recta da meta e vejo o cronómetro da organização que ainda marcava o minuto 32 da segunda hora de prova. Acelero um bocado para entrar ainda na casa da 1h32, solto um sorriso de satisfação e atravesso a linha de meta!
Logo a seguir pediram-me para tirar o chip e colocá-lo numa caixinha. Tive que me sentar no chão para o fazer, tal era o cansaço. Segui em frente, recebi a medalha e o saco com os brindes, garrafas de água, etc e... um gelado! Que bem que me soube o gelado de maracujá fresquinho!
Esperei pelo resto da malta do ACP e fomo-nos embora, já que a nossa missão ali estava cumprida!
Aqui ficam os meus tempos parciais registados no Garmin.
5km - 21'04''
10km - 42'25'' / 5km - 21'21''
15km - 1h04'15'' / 5km - 21'50''
20km - 1h27'05'' / 5km - 22'50''
21,12km - 1h32'28'' / 1,12km - 5'23''
Terminei com um tempo oficial de 1h32'48'' e um tempo de chip de 1h32'28''.
Segundo a classificação provisória classifiquei-me em 315º de 3344 participantes e em 153º de 1634 no escalão de seniores masculinos.
Eh pá, só faltou contares de havia alguma gaja boa a bater palmas à tua passagem, durante quanto tempo bateu as palmas e qual a cadência de palmas ao minuto! Fora de brincadeiras parabéns e continua animado, sobretudo a gozares cada passada e sem stressares muito com a minúcia dos x segundos ao Km e etc. Corre livre e vais ver que correrás cada vez mais rápido.
ResponderEliminarComo ia com o objectivo de fazer um determinado tempo fui sempre atento e "preocupado" com isso... No dia anterior à prova e durante a mesma, só me passava pela cabeça cadências e x minutos por km... Talvez tenha razão, deixar as pernas fazerem o seu trabalho sem stress talvez será o melhor! ;)
ResponderEliminarExcelente retrato escrito da tua meia maratona de Lisboa. Consegues prender-me do início ao fim. Parabéns pelo texto e pela excelente prova.
ResponderEliminarObrigado Luís! Tento escrever o mais natural possível, como se de uma conversa se tratasse... Ainda posso melhorar em muitos aspectos, mas com o tempo vai lá...
ResponderEliminarExcelente prova, sempre concentrado em objetivos pré-definidos...tentando contrariar algumas quebras de ritmo com aumentos de andamento. Estás de parabéns!
ResponderEliminarEu já tinha vaticinado que irias surprender alguns bravos do pelotão...continua a gozar a corrida numa forma descontraida e sem stress.
Parabéns pelo artigo Hélder. Quem anda nas nossas andanças sabe dar valor e dá para sentir e imaginar o que está escrito. Também acho que os atletas de pelotão têm o direito a terem os nossos objectivos, mesmo que estes sejam modestos. Por vezes no meu blog (no antigo) fazia artigos do género. Fico À espera de mais experiências tuas. Um abraço
ResponderEliminarObrigado Emílio e Bruno!
ResponderEliminarCá continuarei a contar as andanças deste atleta de pelotão!
parabéns, grande tempo
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