segunda-feira, 3 de outubro de 2011

II Trail Terras do Grande Lago

II Trail Terras do Grande Lago
Alqueva – Portel, 02 de Outubro de 2011



Depois de muito se falar acerca desta prova lá no “balneário” do ACP, decidi-me a ir até ao Alqueva experimentar os 35km. Ainda hesitei entre os 22 e os 35km, mas como não é uma prova com uma dificuldade extrema, fui para os 35km.

Como seria a prova mais longa que tinha realizado até à data, o grande objectivo passava por atravessar a linha de chegada inteiro e em boas condições.
 
Depois de ter madrugado no domingo passado, havia que madrugar novamente se queríamos chegar a Portel a horas. E lá partimos de Portalegre às 5h30, 5 ACP’s. Eu, o Luís Maurício, Luís Pinto, João Carlos e o José Serra.

Chegamos a Portel dentro do horário previsto, já ao amanhecer, mas com o sol ainda escondido por detrás das colinas. Levantámos os dorsais e fui-me equipar rapidamente, porque tinha o autocarro para apanhar dentro de minutos.

Os 5 ACP's: J. Serra, eu, L. Pinto, JC e L. Maurício.


Às 7h45 arrancou o autocarro em direcção à Aldeia do Alqueva onde seria dada a partida. Chegamos pouco depois das 8h. A partida seria às 9h30, por isso vi logo que iria ter muito que esperar. À medida que iam chegando mais autocarros o aglomerado de atletas ia aumentando, enquanto isso eu e o J. Serra íamos conversando com outros atletas que como nós aguardavam a partida.

Aproximava-se a hora do tiro de partida. Fui dar uma corridinha para aquecer, já que aqui tinha espaço e tempo para isso.

Ainda vimos e ouvimos a banda a tocar, fazendo a abertura do dia das festas em honra de Stº António, S. Lourenço e do Santíssimo Sacramento, devidamente anunciadas pelo Sr. Presidente da Junta de Freguesia do Alqueva que convidou todos os presentes, posteriormente, a visitarem o Alqueva.

Chegada a hora e zás! Era vê-los a acelerar pelos paralelos abaixo!

As primeiras centenas de metros eram a descer, primeiro atravessando a Aldeia do Alqueva e depois entrando num estradão de terra batida.

O meu principal pensamento nesta fase inicial era “Isto ainda está a começar, vai com calma, ainda faltam 35km!” Por isso, apesar da inclinação do terreno ser favorável, meti travão nas pernas e fui nas calmas nos primeiros km, apreciando a paisagem e não me preocupando muito se era ultrapassado por outros atletas…

Quase no 2º km avistam-se pela primeira vez as águas do Alqueva ao atravessarmos uma ponte que fazia a junção entre as margens de um dos muitos “braços” da albufeira do dito cujo.

Nesta fase inicial a temperatura ainda estava agradável. O sol já se erguia, mas ainda se sentia aquele fresquinho da manhã e o facto de estarmos perto de um enorme lago ajudava a refrescar o ar.

O percurso continuava pelo estradão, com umas subidas e descidas pouco acentuadas que se faziam bem a correr. O trajecto era como que em 'S'. Ora virava para a esquerda, depois curva apertada à direita, em que nestes pontos podia ver os atletas que iam à minha frente e atrás de mim uns 200m.

Passou por mim o Fernando Barrero que já tinha feito a prova no ano passado e me disse para ir com calma, que na parte final é que eram precisas as forças. Despedimo-nos e lá foi ele…

A certo ponto o terreno começa a inclinar e temos a primeira subidazita do dia, onde no cimo da mesma se encontrava o primeiro abastecimento ao km 6. Olhei para a mesa e só vi copos de água. Estive para nem parar, porque levava o camelbak cheio de água fresca (tinha-lhe colocado gelo) e não precisava de abastecimento líquido. Mesmo assim encostei, agarrei num copo, dei um gole, despejei o restante no chapéu e arranquei rápido.

Nesta altura vi que tinha acertado na decisão de trazer o chapéu com aquele pano de protecção da nuca e pescoço, visto que o percurso seria feito quase sempre de costas para o sol. Além de me fazer sombra no pescoço, quando o molhava obtinha a refrescante sensação de um paninho fresco no pescoço. Impagável!

Após o abastecimento havia uma pequena descida que nos aproximava das águas do Grande Lago. Apesar de não ser a zona mais ampla da albufeira, já dava para regalar o olhar com esta magnífica vista.

Segui acompanhando a margem do lago. Nesta altura olhava mais para a direita do que em frente... hehe

Seguia sozinho, com dois ou três atletas uns 100m à minha frente e outros tantos uns 100m atrás. Atravessamos umas explorações agrícolas onde pude passar a uns metros de dois cavalos, égua e potro provavelmente. À direita, lá no lago, avistavam-se 3 pequenas ilhas. Uma espécie de Almourol, mas sem castelo…

Passei aos 10km com 51m41s, com uma média de 5:10 min/km. Era mais ou menos o que tinha previsto, não muito rápido mas também não muito lento. Sentia-me bem e com força e vontade de fazer mais 25km.

Nesta altura começo a aproximar-me de dois atletas que iam à minha frente e apanho-os junto ao 2º abastecimento. Aqui bebi um copo de isotónico e comi um pedaço de banana. Bebi mais um copo de água para empurrar a banana, molhei o chapéu e segui viagem.

Apesar de levar o camelbak cheio de água, optei por beber em todos os abastecimentos, porque assim poupava a água fresca que levava e podia ir dando pequenos goles entre os abastecimentos.

Mais à frente entrei numa estrada de alcatrão e vi que estava a chegar à Amieira. Passei a rotunda junto à praça de touros e segui em frente. Uns metros à frente virei à esquerda e entrei novamente na terra batida. A partir daqui começaram os sobe e desce e vi que tinha que me começar a poupar. Então comecei a fazer as subidas mais íngremes a caminhar.

Antes do km 16 ia-me enganando no caminho. Havia uma viragem à esquerda que estava devidamente marcada, mas quem não fosse atento enganava-se facilmente. Mais tarde vim a saber que alguns atletas seguiram em frente nesse ponto e tiveram que voltar para trás…

Após o km 16 aparece uma “subidazita” jeitosa, onde apanho um grupo de 5 ou 6 atletas que seguia à minha frente. No final da subida estava o 3º abastecimento. Bebo um isotónico, água, refresco o chapéu e sigo na frente do grupo.

Começamos a descer e depois a subir e a descer novamente e por aí fora…Os km seguintes foram um sobe e desce constante em que corria nas descidas e planos e caminhava nas subidas.

Passamos o meio da prova, o PSR como lhe chamei para mim na altura. O Ponto Sem Retorno, em que já está mais próximo o final do que o início da prova.

Lá continuei no sobe e desce com curvas e contracurvas. Passei aos 20km com 1h50m50s e 5:33 de média. Tinha feito os segundos 10km em cerca de 59min. Sentia-me bem fisicamente, mas o terreno aqui já não era tão fácil.

Ao descer uma das colinas avisto o abastecimento seguinte lá no alto de outra colina. Parece que não, mas sempre dá outro alento sabendo que lá no cimo temos comidinha e bebida.

Continuo a descer e chego a um ribeiro onde não havia hipótese de fugir à água. Atravesso o ribeiro com duas ou três passadas largas e estilo de atleta, já que do outro lado estava a repórter fotográfica a registar o momento.

Começo a subir até ao abastecimento. A subida era curta, mas provavelmente a mais íngreme do percurso, com um desnível bastante acentuado. Faço-a a caminhar e mesmo assim chego lá acima estafado. Abasteço-me como de costume, acrescentando um pedaço de marmelada ao menu e sigo caminho.

Um km ou dois após o abastecimento alcanço o Vitorino Coragem. Era bom sinal pensei eu. O Vitorino que normalmente é muito regular e não engana muito, ir perto dele é sempre bom sinal. O terreno aqui continuava a subir, embora não parecesse, já que era o chamado falso plano. A inclinação não era muita, mas o cansaço começava a querer manifestar-se.

Após o km 26 mais um abastecimento. Lembro-me que neste abastecimento bebi bastante.

Já eram 12h e o calor apertava! Mas quem é que se lembra de andar a correr em pleno Alentejo às 12h com 30ºC?! Ainda me vieram à cabeça imagens do Carlos Sá e da Marathon de Sables com 40 ou 50ºC e pensava “Isto não é nada, vamos mas é para a frente!”.

A partir daqui já só contava cada km que passava e animava-me de cada vez que o GPS apitava.
 
Desde o abastecimento que a inclinação começou a aumentar. Até ao km 29,5 foi sempre a subir. Ainda passei por um grupo de cabras que estavam descansadinhas à sombra dos sobreiros e àquela hora não havia outra hipótese. Só mesmo malucos como nós é que subiam e desciam montes e vales em pleno Alentejo.

No cimo da subida já se avistava o castelo de Portel e já não faltava tudo. Comecei a descer e aqui já conseguia correr, devagarinho lá ia correndo. Passadas umas centenas de metros começo a ouvir alguém atrás de mim com uma boa passada. Nem olhei para trás, previ logo que seria o Vitorino Coragem. E era mesmo. Ultrapassou-me a toda a velocidade! Ainda pensei que o ia encontrar no final da descida no abastecimento, mas quando lá cheguei já não havia sinal do Vitorino.

Cheguei ao abastecimento, comi um pedaço de banana e como já me tinha acabado a água do camelbak resolvi atestar o depósito. Ainda perdi um bocado de tempo, mas logo retomei o caminho.

Tinha descido muito, por isso agora o caminho seria em subida até Portel, pensei eu. Lá fui progredindo, muito lentamente… Até no plano já me custava correr... As pernas já não queriam responder, mas ainda consegui ir buscar forças para correr até à subida seguinte… Fui ultrapassado por vários atletas antes da subida e só me lembrava dos últimos km do Trail do Almonda em que também tive que fazer grande parte a caminhar porque já não era capaz de correr…

Comecei a subir, a caminhar claro! Cheguei ao cimo da subida e o GPS já marcava 33km e picos… Estava mesmo a chegar! Comecei a correr e a avistar Portel…Olho para o relógio que marcava à volta das 3h35 e marco as 3h45 como referência.

Cheguei ao final do estradão de terra batida e entrei no alcatrão! Já estava dentro de Portel, agora eram só mais umas centenas de metros até à chegada…

Aproximo-me de um GNR que estava a cortar o trânsito pensando que era para virar à esquerda e descer, mas não… Era para a direita e a subir! Se tem mesmo que ser então vamos a ela! Ataquei a subida com as últimas forças que me restavam!

Aproximo-me de outro cruzamento em que estava outro GNR que me indica o caminho, para continuar a subir claro… Vejo ao cimo alguém com a camisola da prova que me diz para virar à esquerda… Viro à esquerda e reconheço o parque onde tínhamos estado de manhã.

Olho para o relógio que marcava 3h44 e acelero para a meta de braços no ar! E já está!!! Naquele momento sentia-me exausto, mas ao mesmo tempo com uma enorme alegria dentro de mim de saber que tinha sido capaz e que mais este objectivo tinha sido atingido!

O JC, o L. Pinto e o L. Maurício vieram felicitar-me depois de já terem feito os 22km. Agarrei uma maçã e duas garrafas de água e fui estender-me na relva à sombra de uma árvore. E que bem que soube! Mais tarde reparei que com a pressa de ir relaxar não tinha levado o azulejo de recordação. Fui lá buscá-lo porque é sempre uma recordação da prova. Enquanto esperávamos pelo Serra fui alongando dentro do possível... Lá chegou o Serra, fizemos a festa e fomos ao merecido banho...


Alguns dados da minha prova:

Distância: 35,38km

Tempo: 3h44m28s

Ganho de elevação: 740m

Cadência média: 6:21min/km


Parabéns à organização que conseguiu montar uma prova agradável, centrada no participante. O percurso estava bem marcado, só havia um ou outro local em que quem não fosse atento se poderia perder. Os abastecimentos também foram bons, com água, isotónico e fruta com fartura. O local da chegada é muito bom, com relva, sombras e o balneário próximo.
Para ser ainda melhor só faltou mesmo o almoço. Se para o próximo ano conseguissem isso seria excelente!



(Em actualização. Faltam as fotos que colocarei mais tarde)

4 comentários:

  1. Foi como se eu tivesse feito os 35 kms. Parabéns!!

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  2. Obrigado Luís! Para o próximo ano fazes mesmo!

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  3. Está muito bom! Parece que estamos a ler um livro e esperamos o próximo capitulo! ;)

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  4. Obrigado! E espero que não se acabem as páginas...

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