terça-feira, 10 de abril de 2012

3º Trilhos do Almourol - 42km

3º Trilhos do Almourol - 42km

Entroncamento, 1 de Abril de 2012


Quem diria que a minha primeira Maratona iria terminar no Entroncamento?

Pois bem, no passado dia 1 de Abril concluí os Trilhos do Almourol na distância de 42km, que ligaram a Aldeia do Mato junto à albufeira da Barragem de Castelo de Bode ao Entroncamento por trilhos!

A prova, organizada pelo CLAC - Clube de Lazer, Aventura e Competição (Entroncamento) levou várias centenas de atletas, caminheiros e acompanhantes até à terra dos fenómenos, arriscando a tornar-se ela própria num verdadeiro fenómeno!

Do Atletismo Clube de Portalegre éramos 9 atletas, 6 nos Trilhos e 3 nos Mini-Trilhos. Saímos de Portalegre ainda de noite e com o dia a amanhecer chuvoso...

Foto: Atletismo Clube de Portalegre.

Chegamos ao Entroncamento já perto da hora de saída dos autocarros que nos iriam levar aos pontos de partida das respectivas provas... Rapidamente levantamos os sacos com os dorsais e os brindes, equipámos-nos e dirigimos-nos para os autocarros que se encontravam devidamente identificados com as numerações dos dorsais, para não haver confusões...

Chegados à Aldeia do Mato foi hora de aquecer ligeiramente, passar no controlo da partida e estávamos prontos para a Maratona!

Inicialmente tinha decidido levar o corta-vento vestido, porque o céu ameaçava chuva... Mas uns minutos antes da partida começaram a abrir-se as nuvens e sol começou a espreitar... Decidi despir o corta-vento, mas já não fui a tempo de o despachar, tive que o levar na mochila às costas...

Chega a hora e soa a buzina! E lá vamos nós em direcção ao Entroncamento...

Parti mais ou menos ali no último terço do pelotão... Começamos devagar, em corrida lenta e logo a seguir viramos à direita, para uma descida inclinada ainda em alcatrão...

Foto: Lina Branco Batista

Chegamos ao fim da descida e estávamos prontos para a primeira subidazita do dia... Primeiro num estradão largo, mais à frente entrámos em trilhos mais estreitos em que foi preciso fazer fila indiana e abrandar o ritmo... É sempre chato ter que parar nestes sítios, esperar, caminhar um bocado e parar outra vez, etc... Mas por outro lado foi o ideal para acalmar algum ímpeto inicial que pudesse estar a surgir...

Lá fomos por ali acima, pelo meio das árvores, desviando-nos dos obstáculos até que chegamos novamente a outro estradão... Aqui já dava para correr... Continuamos por caminhos florestais e começamos a aproximar-nos da Barragem de Castelo de Bode...

Foto: João Catalão

Fizemos alguns km ali junto à água, sempre com a albufeira da barragem à vista e chegamos à dita cuja... Após atravessarmos a enorme parede que constitui a barragem em si, estava o 1º abastecimento... Estava à espera de mais qualquer coisa, mas só havia água... Levava água comigo, mas mesmo assim decidi beber um copito para não parecer mal...

Iniciámos a descida através de uns degraus que nos iriam levar até junto ao rio... Pelo que soube, numa das edições anteriores a barragem encontrava-se a largar água no momento da passagem dos atletas... Com certeza foi uma imagem impressionante e digna de se ver, mas este ano nem uma pinga de água... Com a seca que se viveu este Inverno, não devem de haver descargas tão cedo...

Foto: Lina Branco Batista

Fizemos umas centenas de metros em alcatrão e aproveitei para comer uma barra das que levava comigo... Já levava cerca de 1h de prova e o corpo já começava a pedir combustível...

Entramos na terra batida e de seguida nuns trilhos mais técnicos, mesmo junto à linha de água... Aqui estava na minha praia, mesmo como eu gosto... Aos ziguezagues, desviando-me das árvores, saltando troncos caídos, evitando as armadilhas, lá fomos progredindo... Seguia num grupo de cerca de 10 atletas que se tinha juntado após o abastecimento...

Ia muito bem, quando me começam a dar umas cólicas... Ai o caraças! Lá tive que encostar às boxs, num local onde ninguém desconfia e "aliviar o stress"... Vá lá que ia prevenido...

Recomposto deste episódio, estava de novo nos trilhos... Segui num estradão, tentando recuperar algum tempo perdido em relação ao grupo onde seguia...

Chego ao rio Nabão e ali estava a primeira ponte "artesanal" que iríamos atravessar, esta feita pela Escola Prática de Engenharia (penso eu)... Atravesso a ponte e aqui começava mais uma etapa a subir... Primeiro progredimos numa zona mais técnica junto ao rio, depois apanhámos um estradão por ali acima...

Já começava a recuperar posições e na subida fui ultrapassando alguns atletas que me tinham ultrapassado antes...

Num cruzamento vejo uma ambulância dos bombeiros... Ainda pensei em parar e pedir alguma coisa que ajudasse a aliviar o meu episódio intestinal, mas segui em frente... Duvido que tivessem ali algum tipo de medicamentos com eles...

Agora sentia-me melhor, fui gerindo o esforço na subida, ora caminhando nas zonas de maior inclinação, ora a correr lentamente quando o terreno o permitia...

Na descida nunca arriscava muito também... Os joelhos são o meu ponto fraco e tinha que os poupar...

O 2º abastecimento surgiu após os 16km... 'Tava mesmo à espera duma bananinha, mas também só havia líquidos... Ainda apanhei um copo dum líquido alaranjado a pensar que era isotónico, mas era sumo com gás... Optei por 2 copos de água e segui viagem...

Fizemos uns metros em alcatrão e entramos novamente nos trilhos...

Até Constância foi um sobe e desce manhoso... Normalmente corria-se bem, mas de vez em quando aparecia uma ou outra parede que nos obrigava a caminhar e acalmar o ritmo...

Passamos debaixo da auto-estrada e já se avistava Constância... Aparece o 1º controlo após a partida, +/- aos 21km... Ainda perguntei se não havia mais nenhum para trás, com medo de ter falhado algum, mas estava tudo ok!

Nesta altura começo novamente com a barriga às voltas... Já via a minha vida a andar para trás... Que sorte a minha! Porra! Lá tive que encostar novamente...

Retomei o caminho e comecei a avaliar a situação... Ia mais ou menos a meio da prova, levava cerca de 2h30 e já tinha parado duas vezes com diarreia... Estava com receio de desidratar e desmaiar-me ali num canto qualquer... Comecei então a beber água com mais frequência para repor os líquidos perdidos... Faltavam 2 ou 3 km para o próximo abastecimento e até lá iria ver como estava... Se sentisse alguma grande quebra ou uma fraqueza geral ponderaria desistir...

Deixei Constância para trás e continuei na esperança de aguentar até ao final...

O 3º abastecimento surgiu após o km 24... Aqui já havia sólidos... Comi uma mão cheia de amendoins salgados, bebi uns 2 copos de água, agarrei em 2 ou 3 pedaços de banana e segui viagem... Ia com algum receio de não aguentar até ao final, mas também não estava ali para desistir... Continuei com cautela e tentando ouvir sempre o corpo...

Seguimos por estradões e caminhos florestais e quando me apercebo estávamos junto à linha do comboio, tendo feito mesmo uns metros ali na linha... Passamos junto à estação de Almourol, onde já tinha estado uma vez e até me lembro de entrar naquele barzito e beber uma água fresquinha... Agora, se não está tudo ao abandono pelo menos parece...

Continuamos e aproximava-se o ex libris dos Trilhos do Almourol, o próprio castelo...

Parece que nas edições anteriores ainda não tinha sido possível a ida ao castelo, mas nesta 3ª edição ia concretizar-se... Quando lá chego diz-me um membro da organização que agora tinha de ir até lá ao castelo que lá havia um controlo...

Ok! Atravessei mais uma ponte, esta sobre o baixo caudal do rio Tejo ali colocada pelos militares... Subi rapidamente ao castelo, conquistando assim mais um visto no meu dorsal... Voltei a descer e a saída desta vez foi feita através de uma ponte construída pelos escuteiros, mais instável mas ao mesmo tempo mais engraçada...

Foto: José Marçal da Silva

Seguimos viagem em direcção a Tancos, primeiro por uma zona de pedras, depois junto à linha do comboio... Entramos num estradão e sentia-me bem, com força... Estava mais aliviado, parece que aquele mau estar intestinal tinha passado...

Chegamos a Tancos, demos ali umas voltas junto ao rio num tipo de terreno algo irregular e chegamos ao 3º controlo, mais um risco no dorsal... Logo ali a seguir estava uma casa de banho pública, para quem estivesse com vontade... "Ai agora?!" pensei eu... "Agora já não é preciso..."
Foto: Barros Simões

Cheguei ao abastecimento, mais uns amendoins para o bucho, uns pedaços de marmelada e ainda abasteci o camelbag de água que já estava vazio...

Arranquei do abastecimento na companhia do Vitorino Coragem, que me tinha passado no início, mas entretanto, após o castelo tinha-o alcançado novamente...

Abandonamos Tancos de forma discreta atravessando a linha férrea por um túnel onde quem não tivesse cuidado mandava lá uma bela marrada...

Nesta altura o calor já começava a apertar... Tanta chuva que caiu durante a noite e início da manhã e agora durante a prova nem uma pinga? Já sabia bem uns chuviscos, para arrefecer o corpo...

Neste momento já tinha passado a barreira dos 30km e já ia contando cada km que faltava... Sentia-me bem, com força, sem cansaço muscular que se notasse e decidi deixar o corpo ir... Sem me aperceber fui aumentando o ritmo...

Comecei a fazer contas e percebi que se mantivesse a média dava para fazer menos de 5h sem grandes problemas...

Até ao 5º e último abastecimento, que se situava +/- aos 36,5km foi praticamente sempre a subir... Se já estivesse desgastado e a gerir a reserva de energias teria ido mais lentamente e aproveitado as subidas mais inclinadas para caminhar... Mas como me sentia bem, fiz quase tudo a correr, pelo que ultrapassei uns 15 ou 20 atletas...

Após o abastecimento começamos a descer, aproveitei para recuperar um bocado, mas sempre mantendo um bom ritmo...

Até que nos surge uma subida inclinada que teve que ser feita a caminhar... Uma última dificuldade segundo dois elementos da organização que lá estavam...

No final da subida, mesmo antes de chegarmos a uma capela, uma atleta dos Run4Fun tem uma enorme cãibra na perna e teve que ficar ali no chão uns minutos... Eu e outro atleta que seguíamos junto dela obviamente que parámos e tentamos ajudar, mas nestas situações quanto mais se alonga pior... Disse-lhe para não alongar e tentar relaxar o músculo... Passado uns segundos foi como que instantâneo, viu-se mesmo o músculo que se encontrava excessivamente contraído a voltar à sua forma original... Ela já estava melhor e disse-nos para continuarmos...

Lá seguimos viagem... Íamos com 39km, agora era só rolar até à meta... Mas não sei o que se passou que comecei a acusar o cansaço... Ia tão bem e de repente as pernas deixaram de querer correr... Não sei se foi de ter parado aqueles minutos, mas já não conseguia correr solto... Fui-me arrastando nos últimos km...

Foto: Henrique Narciso

40km.... 41km... Alguns atletas ultrapassam-me, inclusive a atleta dos Run4Fun que tinha sofrido o episódio de cãibras uns km atrás...

Passo por um elemento da organização que me diz que falta 1,5km... "Ok, está quase... um último esforço..."

Entro numa estrada de alcatrão e passamos sobre o IC3... "Faltam 2,5km..." diz-me outro elemento da organização... "Mau, então mas querem ver que isto está a crescer..." pensei cá pra mim...

O GPS acabava de marcar 42km e eu ainda andava ali no meio dos campos... "Ok, mais 1km de bónus também não faz mal!"

Entrei no alcatrão e já avistava o pavilhão... Ainda tive que fazer a subida do viaduto que passava por cima da linha férrea a caminhar... Comecei a descer e agora já não podia parar... Só parava lá dentro, quando corta-se a meta...

Foto: Atletismo Clube de Portalegre

O GPS marcava 4h59, já não dava para baixar das 5h... Entrei no jardim a saudar os colegas de equipa dos Mini-Trilhos que já tinham terminado... Lá segui as fitas a ver onde aquilo me levava e não é que entrámos pela porta dos fundos?! hehe Vá lá que estava bem marcado e ninguém foi directo para os balneários...

Avisto o pórtico e o cronómetro que marcava 5.00 e alguns segundos quando entrei... E corto a meta com um salto triunfante!

Foto: Lina Branco Batista

Estava feita a minha primeira maratona em trilhos!

Bebi uns copos de água e comecei a sentir-me meio zonzo... 42km em trilhos têm que fazer alguns estragos e o calor nas últimos horas de prova também não ajudaram nada... Não estive com meias medidas e deitei-me mesmo ali no chão do pavilhão para acalmar um bocado...

Alonguei ligeiramente e fui para a fila das massagens... Depois de uma bela massagem, fui ao banho de água quente que sabe sempre bem e ao almocinho...

Em relação à classificação, fui  93º de 275 na geral e 17º de 39 nos seniores masculinos.

Classificações e links para os vários álbuns de fotos podem ser vistas aqui no site do CLAC.

Alguns dados da minha prova:

Distância: 43,12km

Tempo: 5h01m06s

Ganho de elevação: 880m

Cadência média: 6:59min/km

Apesar dos percalços já referidos, soube muito bem terminar esta prova... Consegui gerir o esforço físico de forma inteligente e a nível mental o meu companheiro de cá de cima também se portou bem, o que penso ser um bom prenúncio para os 50km de Sesimbra!

Em relação à organização, esteve a um grande nível... Desde os autocarros para a partida, as marcações, o trabalho que tiveram em limpar aqueles trilhos, toda a estrutura montada no pavilhão, excelente... A única coisa que tenho a apontar como um ponto a melhorar são os abastecimentos... O primeiro abastecimento com sólidos surge um bocado tarde, mas isso pode facilmente ser ajustado numa próxima edição... De resto, 5 estrelas! Recomendo vivamente esta prova e espero repetir! Obrigado ao CLAC e a todos os que colaboraram para colocar esta prova de pé!

2 comentários:

  1. Excelente descrição da prova amigo!! Revivi algumas passagens do teu texto!! Parabéns!!
    LPinto

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